Posts com Tag ‘religião’

:: Por Cibelle Gonelli ::

Os padrões comportamentais mudaram com o meio online, fazendo com que as pessoas pudessem encontrar algum auxílio religioso a distância. Apesar de recente no Brasil, o fenômeno da “e-religião” tem ganhado destaque em outros países. Já é possível acender uma vela virtual, pedir oração via chat ou email, fazer uma macumba virtual ou vodu, assistir à pregações via webTV, fazer simpatias e despachos e até fazer leitura de tarot e cartas.

De acordo com uma pesquisa do instituto californiano especializado em assuntos religiosos, o Barna Research, até o final da década, mais de 10% da população norte-americana utilizará a internet como espaço para suas experiências religiosas.

Entre a grande quantidade de crenças existentes no mundo atualmente, cinco se destacam pelo maior número de fieis adquiridos: na ordem são cristianismo, islamismo, hinduísmo, religiões chinesas em geral e o budismo.

“Atualmente, quase todas as religiões já usam a web para atrair pessoas, prometendo graças e oferecendo orações, ajuda ou até acendendo velas em rituais virtuais. O fato de exercer qualquer tipo de fé pela internet não muda. Não é porque a pessoa não está pessoalmente fazendo uma oração que sua fé é menor. A tecnologia chegou para agregar valores”, explica o estudioso da história das religiões Emmanuel Heliades.

Segundo o especialista, o cristianismo é a maior religião do mundo, com mais de 2 bilhões de seguidores, baseando no monoteísmo e nos ensinamentos de Jesus de Nazaré. Aqui se enquadram os católicos, os evangélicos, os adventistas, os anglicanos, os luteranos, entre outros.

Para ver a matéria completa, entre no UOL Tecnologia e mais:

Fenômeno e-religião conquista adeptos
Catolicismo é a que mais aderiu à internet
Evangélicos possuem espaços dedicados
Espíritas têm TV online e oração virtual
Simpatia, tarot e despacho dão soluções
Budistas e hindus propagam crenças online
Cemitérios virtuais criam redes

Fonte: Uol Tecnologia

:: Por Elisandra Vilella G. Sé ::

“A espiritualidade baseia-se em aspectos básicos da condição humana, na necessidade de atuar, de viver a vida, dar um sentido e uma orientação à vida e na abertura do homem para o transcendental”

Neste texto te convido a pensar num tema complexo e fundamental da nossa existência humana: a espiritualidade expressa pela capacidade de transcender e ir além de nossos limites e manifestada pela religiosidade e crenças. Pesquisas no campo da gerontologia revelam que o aumento da espiritualidade é fonte relevante de suporte emocional, tanto na área da saúde física como da saúde mental, e o quanto se faz fundamental no curso de vida.

Segundo Fowler (1981), teólogo e estudioso do desenvolvimento humano, a fé não envolve necessariamente os conceitos de religião. Para Goldstein e Sommerharlder (2002) – pesquisadores nas áreas de psicologia e gerontologia – ao estudarem religiosidade, espiritualidade e significado existencial na vida adulta e na velhice, demonstraram que diferenças na vivência espiritual/religiosa foram expressos por dois enfoques, a religiosidade intrínseca e extrínseca.

Na religiosidade intrínseca, a pessoa é genuinamente religiosa, tem as crenças interiorizadas como parte integrante de sua vida. Na religiosidade extrínseca, a pessoa usa a religião para atender às necessidades pessoais de segurança e autoproteção. As autoras também fazem a diferenciação entre a abordagem substantiva e funcional.

Na abordagem substantiva, a religião é vivida com um fim em si mesma, tem como foco a experiência pessoal e os esforços para a maior proximidade para com a divindade, enquanto na abordagem funcional a religião é um meio para atingir um fim, é um auxílio para dar significado ao desconhecido e seus efeitos reguladores na vida da pessoa, família e sociedade. As pessoas podem estar engajadas em atividades religiosas sem estarem engajadas no encontro, sem terem a abordagem substantiva ou a dimensão intrínseca.

No decorrer do curso de vida após a juventude, fase em que reina a imagem ideal de realização, depois vem a meia-idade em que a atenção volta-se para o desenvolvimento físico com suas indesejáveis marcas do tempo, que são lembretes do nosso cotidiano e por fim a velhice, sendo um processo de aceleração das mudanças físicas. Neste ciclo normalmente nossa libido volta-se para a introspecção, para o silêncio da mente, para o encontro com o self. Viver em plenitude é estar “antenado” com o self, aceitando as inspirações internas.

A espiritualidade baseia-se em aspectos básicos da condição humana, na necessidade de atuar, de viver a vida, dar um sentido e uma orientação à vida e na abertura do homem para o transcendental. Transcendência é uma qualidade também do ser que envelhece, é uma espécie de inteligência moral, porque a espiritualidade se manifesta como experiência humana. Experiência que permite o indivíduo indagar a sua verdade, as suas razões, seus conhecimentos e sua forma de atuação no mundo e sobretudo sobre sua mortalidade e finitude.

Sendo transcendende buscamos sempre formar conceitos sobre o que somos, quem somos, de onde viemos, para onde vamos? Buscamos uma compreensão e interpretação do mundo e como podemos viver nele. O porquê da existência. E isso é algo sim que inquieta todos nós. A religiosidade, a fé, a espiritualidade e a transcendência são fenômenos de intimidade que ajudam o ser humano no curso de vida a procurar sentido.

Nos versos de Drummont “E como ficou chato ser moderno, agora serei eterno” podemos entender que através da nossa atuação no mundo buscamos também um sentido até para ser eterno.

Fonte: Vya Estelar

A Religião (do latim: “religio” usado na Vulgata, que significa “prestar culto a uma divindade”, “ligar novamente”, ou simplesmente “religar”) pode ser definida como um conjunto de crenças relacionadas com aquilo que parte da humanidade considera como sobrenatural, divino, sagrado e transcendental, bem como o conjunto de rituais e códigos morais que derivam dessas crenças.

A religião surgiu naquele momento em que o homem explicou o inexplicável com Deus; onde ele não encontrava mais respostas a não ser a única resposta DEUS. A partir daí os povos procuraram, à sua maneira, tornar essa realidade palpável, visível, sensível. Daí as religiões com suas leis e ritos. Dentro do que se define como religião pode-se encontrar muitas crenças e filosofias diferentes. As diversas religiões do mundo são de fato muito diferentes entre si. Porém ainda assim é possível estabelecer uma característica em comum entre todas elas. É fato que toda religião possui um sistema de crenças no sobrenatural, geralmente envolvendo divindades ou deuses. As religiões costumam também possuir relatos sobre a origem do Universo, da Terra e do Homem, e o que acontece após a morte. A maior parte crê na vida após a morte.

A religião não é apenas um fenômeno individual, mas também um fenômeno social. A idéia de religião com muita frequência contempla a existência de seres superiores que teriam influência ou poder de determinação no destino humano. Esses seres são principalmente deuses, que ficam no topo de um sistema que pode incluir várias categorias: anjos, demônios, elementais, semideuses, etc.

Outras definições mais amplas de religião dispensam a idéia de divindades e focalizam os papéis de desenvolvimento de valores morais, códigos de conduta e senso cooperativo em uma comunidade.

Classificação geográfica

Esta classificação procura agrupar as religiões com base em critérios geográficos, como a concentração numa determinada região ou o facto de certas religiões terem nascido na mesma região do mundo. As categorias mais empregues são as seguintes:

  • Religiões do Médio Oriente: judaísmo, cristianismo, islão, zoroastrismo, fé bahá’í;
  • Religiões do Extremo Oriente: confucionismo, taoísmo, budismo mahayana e xintoísmo;
  • Religiões da Índia: hinduísmo, jainismo, budismo e siquismo;
  • Religiões africanas: religiões dos povos tribais da África Negra;
  • Religiões da Oceania: religiões dos povos das ilhas do Pacífico, da Austrália e da Nova Zelândia;
  • Religiões da Antiga Grécia e Roma.

Número de adeptos por religião (Segundo Gordon Conwell Theological Seminary)

  • Cristianismo: 2200 milhões
  • Islão: 1449 milhões
  • Hinduísmo: 913 milhões
  • Sem religião: 773 milhões
  • Religiões tradicionais chinesas: 388 milhões
  • Budismo: 387 milhões
  • Religiões Etnicas : 266 milhões
  • Ateismo: 148 milhões
  • Novas Religiões: 106 milhões
  • Sikhismo: 23 milhões
  • Judaísmo: 15 milhões

No mundo encontramos 5 grandes religiões presencializadas ou manifestadas em diversos grupos, igrejas, filosofias ou credos (que iremos abordar individualmente em outros posts):

  • Cristianismo
  • Islamismo
  • Hinduísmo
  • Budismo
  • Judaísmo

 Fontes: Wikipédia, Desenvolvimento de Narciso e Equipe Escola

Por Vítor Fragoso – ISMAI – Instituto Superior da Maia

ariesO mito apesar de ser um conceito não definido de modo preciso e unânime, constitui uma realidade antropológica fundamental, pois ele não só representa uma explicação sobre as origens do homem e do mundo em que vive, como traduz por símbolos ricos de significado o modo como um povo ou civilização entende e interpreta a existência.

Mito é uma narrativa tradicional de conteúdo religioso, que procura explicar os principais acontecimentos da vida por meio do sobrenatural. O conjunto de narrativas desse tipo e o estudo das concepções mitológicas encaradas como um dos elementos integrantes da vida social é denominado mitologia.

Definição de Mito

Segundo Mircea Eliade, autora do livro Aspectos do Mito, “o mito é uma realidade cultural extremamente complexa, que pode ser abordada e interpretada em perspectivas múltiplas e complementares… O mito conta uma história sagrada, relata um acontecimento que teve lugar no tempo primordial, o tempo fabuloso dos começos… O mito conta graças aos feitos dos seres sobrenaturais, uma realidade que passou a existir, quer seja uma realidade tetal, o Cosmos, quer apenas um fragmento, uma ilha, uma espécie vegetal, um comportamento humano, é sempre, portanto uma narração de uma criação, descreve-se como uma coisa foi produzida, como começou a existir…”

O mito só fala daquilo que realmente aconteceu do que se manifestou, sendo as suas personagens principais seres sobrenaturais, conhecidos devido ao que fizeram no tempo dos primórdios. Os mitos revelam a sua atividade criadora e mostram a “sobrenaturalidade” ou a sacralidade das suas obras. Em suma os mitos revelam e descrevem as diversas e freqüentemente dramáticas eclosões do sagrado ou sobrenatural no mundo. É está “intromissão” ou eclosão do sagrado (sobrenatural), que funda, que dá origem ao mundo tal como ele é hoje. Sendo também graças à intervenção de seres sobrenaturais que o homem é o que é hoje.

Ainda segundo Mircea Eliade, “o mito é considerado como uma história sagrada, e portanto uma história verdadeira, porque se refere sempre a realidades. O mito cosmogônico é verdadeiro porque a existência do mundo está aí para o provar, o mito da origem da morte é também verdadeiro porque a mortalidade do homem prova-o…e pelo fato de o mito relatar as gestas dos seres sobrenaturais e manifestações dos seus poderes sagrados, ele torna-se o modelo exemplar  de todas as atividades humanas significativas”.

A Necessidade do Mito

poder_mitoMuitas histórias mitológicas conservam-se na mente das pessoas, dando certa, perspectiva daquilo que acontecia em suas vidas. “Essas informações provenientes de tempos antigos têm a ver com os temas que sempre deram sustentação à vida humana, construíram civilizações e formaram religiões através dos séculos, e têm a ver com os profundos problemas interiores, com os profundos mistérios, com os profundos limiares da nossa travessia pela vida…” (Joseph Campbell)

Aquilo que os seres humanos têm em comum revela-se no mito. Segundo Campbell, eles são histórias da nossa vida, da nossa busca da verdade, da busca do sentido de estarmos vivos. Os mitos são pistas para as potencialidades espirituais da vida humana, daquilo que somos capazes de conhecer e experimentar interiormente. O mito é o relato a experiência da vida. Eles ensinam que nós podemos voltar-nos para dentro. Assim sendo os mitos têm como tema principal e fundamental que é a busca da espiritualidade interior de cada um de nós. “Os mitos estão perto do inconsciente coletivo e por isso são infinitos na sua revelação”.

As Características do Mito

A narração mitológica envolve basicamente acontecimentos supostos, relativos a épocas primordiais, ocorridos antes do surgimento dos homens (história dos deuses) ou com os “primeiros” homens (história ancestral). O verdadeiro objeto do mito, contudo, não são os deuses nem os ancestrais, mas a apresentação de um conjunto de ocorrências fabulosas com que se procura dar sentido ao mundo. O mito aparece e funciona como mediação simbólica entre o sagrado e o profano, condição necessária à ordem do mundo e às relações entre os seres. Sob sua forma principal, o mito é cosmogônico ou escatológico, tendo o homem como ponto de intersecção entre o estado primordial da realidade e sua transformação última, dentro do ciclo permanente nascimento-morte, origem e fim do mundo.

 As semelhanças com a religião mostram que o mito se refere — ao menos em seus níveis mais profundos — a temas e interesses que transcendem a experiência imediata, o senso comum e a razão: Deus, a origem, o bem e o mal, o comportamento ético e a escatologia (destino último do mundo e da humanidade). Crê-se no mito, sem necessidade ou possibilidade de demonstração. Rejeitado ou questionado, o mito se converte em fábula ou ficção.

Tipos de Mito

Mitos cosmogônicos

mito-criacaoDentre as grandes interrogações que o homem permanece incapaz de responder, apesar de todo o conhecimento experimental e analítico, figura, em todas as mitologias, a da origem da humanidade e do mundo que habita. É como resposta a essa interrogação que surgem os mitos cosmogônicos. As explicações oferecidas por esses mitos podem ser reduzidas a alguns poucos modelos, elaborados por diferentes povos. É comum encontrar nas várias mitologias a figura de um criador, um demiurgo que, por ato próprio e autônomo, estabeleceu ou fundou o mundo em sua forma atual. Os mitos desse tipo costumam mencionar uma matéria preexistente a toda a criação: “o oceano, o caos (segundo Hesíodo) ou a terra (nas mitologias africanas). A criação ex nihilo (a partir do nada, sem matéria preexistente) já reflete algum tipo de elaboração filosófica ou racional.

A cosmogonia chinesa, por exemplo, atribui a origem de todas as coisas a Pan Gu, que produziu as duas forças ou princípios universais do yin e yang, cujas combinações formam os quatro emblemas e os oito trigramas e, por fim, todos os elementos”.

No hinduísmo, o Rigveda descreve graficamente o nada a original , no qual respirou o Um, nascido do poder do calor.
A água é o elemento primordial mais freqüente das cosmogonias, sobretudo nas mitologias asiáticas e da América do Norte. A consolidação da terra faz-se pela ação de um intermédio (espírito ou animal) que a retira do fundo da água e introduz no mundo um elemento de desordem ou mal. A criação a partir do nada,  aparece unicamente pela palavra de deus fato que aparece claramente no livro do Gênesis.

Mitos escatológicos

morteAo lado da preocupação com o enigma da origem, figura para o homem, como grande mistério, a morte individual, associada ao temor da extinção de todo o povo e mesmo do desaparecimento do universo inteiro.

  • Morte – Para a mitologia, a morte não aparece como fato natural, mas como elemento estranho à criação original, algo que necessita de uma justificação, de uma solução em outro plano de realidade. Três explicações predominam nas diversas mitologias. Há mitos que falam de um tempo primordial em que a morte não existia e contam como ela sobreveio por efeito de um erro, de castigo ou para evitar a superpopulação. Outros mitos, geralmente presentes em tradições culturais mais elaboradas, fazem referência à condição original do homem como ser imortal e habitante de um paraíso terreno, e apresentam a perda dessa condição e a expulsão do paraíso como tragédia especificamente humana. Por fim, há o modelo mítico que  vincula a morte à sexualidade e ao nascimento, analogamente às etapas do ciclo de vida vegetal, e que talvez tenha surgido em povos agrícolas.

Já Platão anunciava a reencarnação e a imortalidade da alma na sua obra “Fédom”, acreditando, que as almas dos seres virtuosos iam para junto dos Deuses bons, e no momento da morte a alma separava-se do corpo, permanecendo imperecível. O corpo simbolizava o cárcere da alma, e só a morte a poderia libertá-la desse cárcere, daí a serenidade de Sócrates no momento da sua  morte.

  • Destruição escatológica – Os mitos retratam freqüentemente o fim do mundo como uma grande destruição, de natureza bélica ou cósmica. Antes da destruição, surge um messias (“ungido”) ou salvador, que resgata os eleitos por Deus. Esse salvador pode ser o próprio ancestral do povo ou fundador da sociedade, que empreende uma batalha final contra as forças do mal e, após a vitória, inaugura um novo estágio da criação, um novo céu e uma nova terra.

Os mitos da destruição escatológica manifestaram-se tardiamente, na literatura apocalíptica judaica, que floresceu entre os séculos II a.C. e II d.C., e deixou sua marca no livro do Apocalipse, atribuído ao apóstolo João. Exemplo típico de mito de destruição (embora não no fim dos tempos) são as narrativas a respeito de grandes inundações. É bastante conhecido o episódio do Antigo Testamento que descreve um dilúvio e o apresenta como castigo de Deus à humanidade. Esse tema tem origens mais remotas e provém de mitos mesopotâmicos.

Mitos sobre o tempo e a eternidade

Os corpos celestes sempre atraíram a curiosidade e o interesse humano, em todas as culturas. A regularidade e precisão inalteráveis do movimento dos astros foram com certeza uma imagem poderosa na formação de uma idéia de “tempo transcendente”, concebido como eternidade, em contraste com o mundo de incessantes alterações e os acontecimentos inesperados vividos no tempo terreno. O retorno cíclico dos fenômenos siderais e de processos naturais terrestres projeto, em algumas culturas, na concepção cíclica do tempo.

 kali11Nas escrituras hinduístas e budistas, elaborou-se um complexo sistema de mundos que desaparecem e ressurgem, sempre num total de quatro. Essa concepção cíclica determinou a adaptação de relatos védicos anteriores e o desenvolvimento de uma doutrina que explica a formação e absorção periódicas do universo como fases de atividade e repouso de energia. Os ascetas e os maias acreditavam que o mundo atual. Havia sido precedido de outros quatro, o último dos quais teria sido destruído por um cataclismo; ambos os povos desenvolveram um complicado calendário, a cujo estudo se dedicavam vários sacerdotes astrônomos.

A concepção linear e progressiva de tempo (oposta à repetição cíclica) é característica das chamadas religiões históricas — judaísmo, cristianismo, islamismo –, que afirmam a intervenção de Deus na história, num acontecimento único e que não se repete, e a existência de uma meta final de salvação da humanidade.

Mitos de transformação e de transição

Numerosos mitos narram mudanças cósmicas, produzidas ao término de um tempo primordial anterior à existência humana e graças às quais teriam surgido condições favoráveis à formação de um mundo habitável. Outras grandes transformações e inovações, como a descoberta do fogo e da agricultura, estão associadas aos mitos dos grandes fundadores culturais. Nos mitos, são freqüentes as transformações temporárias ou definitivas dos personagens, seja em outras figuras humanas ou em animais, plantas, astros, rochas e outros elementos da natureza.

As mudanças e transformações que se dão nos momentos críticos da vida individual e social são objeto de particular interesse mitológico e ritual: nascimento, ingresso na vida adulta, casamento, morte – acontecimentos marcantes para a pessoa e sua comunidade -são interpretados como atualizações de processos cósmicos ou de realidades míticas.

O Eu Transcendente

O mito está diretamente ligado à necessidade do ser humano se transcender através da sua espiritualidade, das suas crenças, das sua fé. O mito surge então como um guia, como um exemplo, que acalma os “espíritos” mais descontentes com a realidade, ajudando-os a adaptarem-se à sua realidade. Por isso resolvi transcrever o excerto seguinte de  Mihaly Csikszentmihalyi, que penso que descreve bem  a transcendência do eu, e a necessidade do eu transcendente e da espiritualidade Humana:

“Na maior parte das culturas que atingiram a complexidade de civilização, as qualidades tidas em mais alta estima são as envolvidas nos processos mentais de um caráter particular a que, à falta de melhor palavra chamaremos “espiritual”. As competências espirituais incluem a habilidade de controlar diretamente a experiência, manipulando os menes (herança cultural, transmitida ao longo dos séculos), que aumentam a harmonia entre os pensamentos, emoções e vontades da pessoa. Aqueles que exercem estas competências são chamados Xamãs, sacerdotes, filósofos, artistas e homens, ou mulheres, sábios dos mais variados tipos. São respeitados e recordados, e mesmo que não lhes sejam concedidos poder ou dinheiro, os seus conselhos são ouvidos, e a sua própria existência é acarinhada pelas comunidades em que vivem.

huuiiig0wsÀ primeira vista, é difícil compreender por que razão as contribuições espirituais são consideradas tão importantes pela maioria das sociedades. De um ponto de vista evolutivo, poderia parecer que não têm qualquer valor prático em termos de sobrevivência. Os esforços dos agricultores, construtores, comerciantes, cientistas, etc…produzem benefícios óbvios e concretos; e a actividade intelectual o que produz?

O que é comum a todas as formas de espiritualidade é a tentativa de reduzir a entropia na consciência. A atividade espiritual visa produzir harmonia entre desejos contraditórios, esforça-se por encontrar significado nos acontecimentos casuais da vida e tenta reconciliar os objetivos humanos com as forças que se lhes opõem a partir do meio. Aumenta a complexidade ao clarificar as componentes da experiência individual, tais como o bom e mau, amor e ódio, prazer e dor. procura expressar estes processos em menes que sejam acessíveis a todos e ajuda a integrá-los uns nos outros, bem como , no meio exterior.

Estes esforços para levar harmonia à mente baseiam-se frequentemente, mas não sempre, numa crença em poderes sobrenaturais. Muitas “religiões”orientais, e filosofias estóicas da antiguidade, tentaram desenvolver uma consciência complexa sem o recurso a um ser supremo. Algumas tradições espirituais, com o ioga hindu ou o taoísmo, concentram-se exclusivamente em conseguir harmonia e o controlo da mente sem qualquer interesse a entropia social, outras, como a tradição confuciana, visavam primariamente  estabelecer a ordem social. Em todo caso, se a importância  atribuída a estas tentativas pode servir de indicador, a redução do conflito e da desordem através de meios espirituais parece ser muito adaptativa. Sem elas é provável que as pessoas ficassem cada vez mais desencorajadas e confusas, e que a guerra hobbesiana de “todos contra todos” se tornasse uma característica mais proeminente da paisagem social do que já é”. (Mihaly Csikszentmihalyi, Novas Atitudes Mentais, pág.227/228)

Mito e religião

mitos1Alguns especialistas, como Mircea Eliade, estudioso de história comparada das religiões, atribuem importância especial ao contexto religioso do mito. Com efeito, são muito freqüentes os mitos que versam sobre a origem dos deuses e do mundo (chamados, respectivamente, mitos teogônicos e cosmogônicos), dos homens, de determinados ritos religiosos, de preceitos morais, tabus, pecados e redenção.

Em certas religiões, os mitos formam um corpo doutrinal e estão estreitamente relacionados com os rituais religiosos — o que levou alguns autores a considerar que a origem e a função dos mitos é explicar os rituais religiosos. Mas tal hipótese não foi universalmente aceita, por não esclarecer a formação dos rituais e porque existem mitos que não correspondem a um ritual.

O mito, portanto, é uma linguagem apropriada para a religião. Isso não significa que a religião, tampouco o mito, conte uma história falsa, mas que ambos traduzem numa linguagem plástica (isto é, em descrições e narrações) uma realidade que transcende o senso comum e a racionalidade humana e que, portanto, não cabe em meros conceitos analíticos.

Não importa, do ponto de vista do estudo da mitologia e da religião, que Prometeu não tenha sido realmente acorrentado a um rochedo com um abutre a comer-lhe as entranhas, nem que Deus não tenha criado o ser humano a partir do barro. Religião e mito diferem, não quanto à verdade ou falsidade daquilo que narram, mas quanto ao tipo de mensagem que transmitem.

A mensagem religiosa geralmente exige determinado comportamento perante Deus, o sagrado e os homens, e é, muitas vezes, formulada de forma compatível com conceitos racionais e em doutrinas sistematizadas. O mito abrange maior amplitude de mensagens, desde atitudes antropológicas muito imprecisas, até conteúdos religiosos, pré-científicos, tribais, folclóricos ou simplesmente anedóticos, que são aceitos e formulados de modo menos consciente e deliberado, mais espontâneo, sem considerações críticas.

Mito e sociedade

coatlique201Como forma de comunicação humana, o mito está obviamente relacionado com questões de linguagem e também da vida social do homem, uma vez que a narração dos mitos é própria de uma comunidade e de uma tradição comum. Não se conseguiu definir, no entanto, a natureza precisa dessas relações.

Alguns lingüistas admitem explicitamente a necessidade de uma ciência mais abrangente, como por exemplo uma nova ciência geral da semiologia, cuja tarefa seria estudar todos os signos essenciais à vida social, e uma nova psicologia, que caracterizaria inicialmente vários sistemas do conhecimento e da crença humanos. O estudo da sociedade e da linguagem pode começar apenas com os elementos fornecidos pela fala e pelas relações sociais humanas, mas em cada caso esse estudo se confronta com uma coerência de tradições que não está diretamente aberta à pesquisa. Essa é a área em que atua a mitologia.

Algumas concepções mitológicas podem exemplificar a complexidade e a variedade das relações entre mito e sociedade. A tribo lugbara (do noroeste de Uganda e do Congo) utiliza um sistema conceptual para relacionar sua ordem sociopolítica a dois heróis ancestrais, relacionados, em contrapartida, à criação do universo. As narrações sobre a evolução da tribo a partir de seus heróis ancestrais são apresentadas na forma de saga, embora a “história” mais primitiva seja contada em mitos. É notável, porém, que o único esquema conceptual do sistema social dos lugbara relacione o passado mítico e o genealógico (não-mítico) e que, em seu conjunto, seja expresso mais em categorias espaciais do que histórico-temporais.

Mito e a psicologia

Freud deu nova orientação à interpretação dos mitos e às explicações sobre sua origem e função. Mais que uma recordação ancestral de situações históricas e culturais, ou uma elaboração fantasiosa sobre fatos reais, os mitos seriam, segundo a nova perspectiva proposta, uma expressão simbólica dos sentimentos e atitudes inconscientes de um povo, de forma perfeitamente análoga ao que são os sonhos na vida do indivíduo. Não foi por outra razão que Freud recorreu ao mito grego para dar nome ao complexo de Édipo: para ele, o mito do rei que mata o pai e casa com a própria mãe simboliza e manifesta a atração de caráter sexual que o filho, na primeira infância, sente pela mãe e o desejo de suplantar o pai. “Não será verdade que cada ciência, no final das contas, se reduz a um certo tipo de Mitologia?”

Carl Gustav Jung – A Psicologia Analítica e a Justificação do Mito 

“Desenvolver a fantasia significa aperfeiçoar a Humanidade”-  Jung

Para Carl Gustav Jung, discípulo de Freud e seu colaborador por muitos anos, os mitos seriam uma das manifestações dos arquétipos ou modelos que surgem do inconsciente coletivo da humanidade e que constituem a base da psique humana. A existência do inconsciente coletivo permite compreender a universalidade dos símbolos e dos mitos, pois que estes se revelam em todas as culturas e em todas as épocas de modo idêntico.

A Importância dos Mitos para a Psicologia

etenidadeO papel dos Mitos é extremamente importante na constituição da cultura, independente do local que se originou – se pertence ou não a um povo – o mito contribuiu para o desenvolvimento individual e coletivo. Os mitos permitem  a tomada de consciência sobre a vida instintiva, possuem a capacidade de gerarem padrões de comportamento que garantem a evolução psicossocial (como também defende Mihaly Csikszentmihalyi), e a atitude criativa perante a vida (nos diferenciando dos animais). Eles não deixam de representar a história da nossa humanidade, dando um sentido à nossa existência  afetiva e espiritual. Como diz Joseph Campbell: “aquilo que os seres humanos têm em comum revela-se nos mitos. Eles são histórias da nossa vida, da nossa busca da verdade, da busca do sentido de estarmos vivos.  Os mitos são pistas para as potencialidades espirituais da vida humana, daquilo capazes de conhecer e experimentar interiormente”.

Segundo Italo J. Furletti os mitos em suas ações estruturantes, possibilitam referências ( consciente ou inconscientemente), a um padrão mais adequado de comportamento, como por exemplo: quando uma pessoa se sente envolvida por uma temática do herói, trata-se de um indicativo de qualidades ainda não definidas, ou refletem simbolicamente, o comportamento que é necessário ser desempenhado pelo sujeito em alguma área da sua vida, fator muito importante e comum nos adolescentes. Em suma pode-se dizer, que os heróis possuem a função de reportar ao comportamento adequado para introduzir ou corrigir o indivíduo na perspectiva da sua totalidade.
Ainda segundo o mesmo autor, no processo de análise psíquica, eles são extremamente úteis  como mecanismos de amplificação de focos psicológicos; principalmente, quando esses focos estão carregados de energia afetiva. Ou seja o ser humano possui uma enorme dificuldade em  perceber seus comportamentos, principalmente os não benéficos, mesmo as pessoas autodepreciativas e a maioria dos comportamentos, de certa forma não apropriados, possuem um ganho secundário cujo benefício para o sujeito é da ordem do inconsciente. Isto não deixa de se ir concentrando numa enorme carga afetiva que tende cada vez mais a aglomerar energia psíquica. Assim pode evoluir tanto, ao ponto de criar um complexo afetivo. Independentemente de chegarem a esse ponto os mitos, por serem expressão de arquétipos (Jung) – padrões de comportamento da herança da humanidade, permitem à pessoa se rever neles (consciente ou inconscientemente) e assim se pode remodelar as suas posturas.

achillesA ação do mito funciona tal qual um sonho, como defendia o próprio Freud, “os mitos  são uma expressão simbólica dos sentimentos e atitudes inconscientes de um povo, de forma perfeitamente análoga ao que são os sonhos na vida do indivíduo”, os mitos estão para a sociedade, assim como os sonhos estão para o indivíduo. Ambos através das suas mensagens promovem a saúde, independentemente ou não de se entender o seu significado simbólico, eles possuem uma eficácia por si mesmo. Se for possível compreender o desempenho do arquétipo no mito, ou, entender a ação arquetípica no sonho, isso permitirá uma maior liberdade decorrente do mundo instintivo, com também, uma maior liberdade de ação, um desprendimento da inserção e imposição sociocultural.

O mito devido à sua riqueza simbólica quando corresponde a um comportamento, serve para ampliar o conteúdo afetivo. Quando não facilita a percepção do que era inconsciente, pelo menos, envolve o sujeito em outros parâmetros de comportamento, possibilitando uma reformulação das ações numa perspectiva de uma postura mais saudável de viver, ou apenas, amenizando o sofrimento.

Bibliografia:
·   Rivière, C. Introdução à Antropologia, Edições70, Lisboa (2000).
·   Mircea Eliade. Aspectos do Mito, Edições70, Lisboa
·   Csiksentmialyi, M. Novas Atitudes Mentais, Círculo de Leitores (1998)