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Celulares perdidos, missões espirituais, invasões de extraterrestres: hoje em dia, tudo serve
de desculpa para os moços que adoram desaparecer sem deixar vestígios.

:: Por Leila Ferreira ::

O enredo é simples: eles se conhecem, saem juntos uma ou duas vezes, ela começa a se envolver, e ele faz o quê? Inventa uma desculpa esfarrapadíssima para sair fora ou simplesmente desaparece. ‘Lembra-te que és pó e ao pó voltarás’, dizia a inscrição na entrada dos antigos cemitérios. Os homens de hoje estão levando as palavras do evangelho a sério. Quando o ficar ameaça virar romance, eles se pulverizam. Ou seja: os ficantes nunca ficam. Nesse caso, não seria mais adequado chamá-los de passantes? Ou transeuntes? Faço a pergunta a Márcia, que está sempre se queixando dos homens que evaporam. ‘Passantes eu tinha antigamente’, responde a relações-públicas. ‘Hoje só me aparecem andarilhos -não contam onde moram, não dão o número do telefone e, quando a gente menos espera, já estão com a mochila nas costas.’

‘Ficante que não fica’ assumido, Roberto, professor universitário, proclama: ‘Minha fila não anda: ela faz spinning. Se elas exigem uma explicação, falo que perdi meu celular e fiquei sem o número delas’. É a desculpa mais recorrente. A quantidade de aparelhos que ‘some’ é tão grande que a gente chega a imaginar se não existiria por aí um cemitério de celulares, com dizeres como ‘Aqui jaz um Nokia’ ou ‘Descanse em paz, Motorola’.

Jefferson costuma alternar a história do celular com a da monografia que tem que fazer para a faculdade. ‘Quando você fala em monografia, as mulheres acreditam. Só que agora é verdade: estou feito louco com a monografia de final de curso e preciso de tempo pra estudar. Aí, junto a fome com a vontade de comer.’ No caso, a fome com a falta de vontade, observo. Ele concorda prontamente. E logo começa um discurso em defesa dos homens que desaparecem. ‘O problema é que as mulheres romanceiam tudo, fazem mil planos e depois se decepcionam.’ Fabiana não concorda. ‘A gente cria expectativas porque eles dizem que vamos passar o réveillon juntos, descrevem os amigos que vão nos apresentar, enchem nossas cabeças de fantasias e, de repente, somem. E, quando um dia dão de cara com a gente na rua, ainda têm o cinismo de dizer: ‘Oi, sumida!’. Alguém merece?’

‘Merecer, não merecemos, mas vivemos passando por isso’, argumenta Rose. Ela tem motivos para estar irritada. Depois de passar um ano se correspondendo com um português pela internet, a secretária raspou a conta da poupança e foi conhecer seu amor virtual em Lisboa. No primeiro dia, um susto: ele contou a Rose que era pai-de-santo. ‘Foi um choque, mas mantive a elegância’, diz a secretária, que até então só sabia que ele era comerciante. O problema é que o português foi se retraindo cada vez mais e, no dia de levá-la ao aeroporto, soltou a pérola: disse que tinha uma missão espiritual na Terra, e que seu guia havia dito para ele se afastar de Rose, porque essa missão não permitia que ele tivesse uma companheira. ‘É o máximo da humilhação’, desabafa, ‘você ser despachada por um pai-de-santo português!’

Entusiasmadíssima com um ficante com quem só tinha saído uma vez, Ana Cristina esperou com ansiedade pelo segundo encontro. Passou o sábado se arrumando e, na hora H, nada. Ele não apareceu, não telefonou e não atendeu o celular. No domingo, Ana insistiu até conseguir falar, e aí ouviu a justificativa: ele tinha sido abduzido! Contou que estava voltando da fazenda com uns amigos quando viram uma luz estranha e a caminhonete em que estavam parou. Segundo o ficante, eles viveram algumas horas estranhíssimas -não viam ninguém, mas sentiam presenças diferentes e não conseguiam sair do local. Só foram ‘libertados’ de madrugada e por isso ele não apareceu, explicou. ‘Fazer o que numa hora dessas?’, pergunta Ana Cristina.

‘Xingar, bater, rir?’ Até Jefferson acha que o rapaz se excedeu: ‘Recorrer a óvnis é muito!’. E conclui, implacável: ‘Quando um homem está a fim de uma mulher, não existem obstáculos. E, quando ele perde o interesse, qualquer coisa serve de pretexto -até mesmo os ETs…’.

:: Leila Ferreira é jornalista, apresentadora de TV e autora do livro ‘Mulheres – Por que Será que Elas…’, da Editora Globo

Fonte: Marie Claire

Por Isabella Bertelli

Meninos gostam de carrinhos, meninas gostam de bonecas. Esses gostos são facilmente explicáveis pela cultura; afinal, desde que nascem as crianças são estimuladas pela sociedade a adotarem o comportamento típico de seu gênero. Será então que as meninas brincam de boneca e os meninos de carrinho porque são dados a eles esses brinquedos?

Se eles vivessem em um mundo sem diferenciação, em que pais não estimulassem seus filhos a brincar de certas formas e com determinados brinquedos, o que aconteceria?

Antes de responder à questão, gostaríamos que você imaginasse o seguinte experimento. Suponha que pesquisadores dessem a macacos fêmeas e machos brinquedos humanos, tais quais bonecas, carrinhos e livros. O que você acha que aconteceria?

Esse experimento foi feito. Pesquisadores deram esses brinquedos a 44 macacos-vervet machos e 44 fêmeas e depois avaliaram as suas preferências por cada brinquedo, medindo quanto tempo passavam com cada um. As análises estatísticas demonstraram que os machos mostraram um interesse significativamente maior pelos brinquedos considerados masculinos e as fêmeas, pelos femininos. E os dois sexos não demonstraram diferenças na preferência pelo livro (Miller & Kanazawa, 2007).

O velho domínio masculino
De acordo com uma história antiga o homem foi feito primeiro por Deus e a mulher era apenas parte de seu corpo, mais precisamente sua costela. A grande ironia nessa história é que a Biologia moderna mostrou que o default do programa genético fetal é o desenvolvimento de um corpo feminino, ou seja, se seis semanas após a concepção o cromossomo Y não desencadear uma certa proteína, um feto feminino será gerado automaticamente (Pinel, 2005). Sim, nesses termos, é como se o homem saísse da “costela” da mulher.

A lenda bíblica revela a supremacia masculina que têm ocorrido há tempos, em que homem é sinônimo de ser humano. O feminismo do século passado foi uma reação a esse domínio, e graças a esse movimento e a outras mudanças sociais as mulheres alcançaram grandes conquistas. Junto com tudo isso, porém, surgiu uma tendência que continua até hoje: a de se negar as diferenças entre homens e mulheres. As únicas diferenças que não estão envolvidas em polêmicas acaloradas são as que se referem aos aparelhos genitais.

A negação da natureza humana
O gênero de um indivíduo é uma de suas dimensões mais essenciais. Trata-se da primeira característica que notamos em outro indivíduo, e isso nos fornece modos de nos comportar frente ao outro. Cada gênero tem uma forma de se vestir, de agir, de se relacionar e ele é um referencial para a nossa identidade. Tamanha é esta importância, não se limitando somente à nossa cultura, que em grande quantidade dos idiomas da Terra os pronomes são declinados com base no gênero do substantivo ao qual se referem. Em todas as culturas humanas, homens e mulheres são vistos como possuidores de naturezas diferentes.

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:: Flávio Gikovate ::

man_woman_242421Atualmente ainda é grande o número de mulheres que têm uma visão unilateral e, até certo ponto machista, acerca da história das relações íntimas entre homens e mulheres. É fato que os homens sempre foram fisicamente mais fortes e se beneficiaram disso para, antes da vida em sociedade, terem acesso às mulheres que lhes despertavam o desejo. Em sociedade, porém, as escolhas e as parcerias sempre foram regulamentadas. Determinados homens deveriam se casar com determinadas mulheres e as escolhas eram feitas pelos pais deles. Ao homem cabia uma série de deveres e direitos, sendo o mesmo verdadeiro para as mulheres. É fato que os homens tinham seus direitos matrimoniais, o que significava que as mulheres tinham que estar sempre disponíveis sexualmente. Isso só se modificou de poucas décadas para cá.

Os casamentos não foram fundados, ao longo da história, em sentimentos amorosos. Quando um homem quisesse ter acesso a qualquer outra mulher que lhe despertasse o interesse sexual ou sentimental, dependia completamente da concordância dela. Ou seja, dentro do casamento ele tinha direitos e deveres e agia como se fosse o rei, o chefe; mas o clima não era de natureza amorosa e sim de associação para fins reprodutores e para, juntos, enfrentarem as adversidades da vida prática. Qualquer vivência de caráter erótico ou sentimental, que sempre acabava por acontecer, dependia dele se fazer interessante aos olhos das mulheres, sendo que estas já eram interessantes, porque haviam despertado neles o interesse sexual e/ou sentimental. Dependiam, portanto, da aprovação delas.

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