O telescópio completou duas décadas em funcionamento no sábado. Desde que foi colocado em órbita pela NASA, em 24 de abril de 1990, registra imagens surpreendentes do espaço e foi responsável por diversas descobertas astronômicas. Para comemorar a data, a Nasa divulgou as melhores fotos coletadas pelo telescópio espacial nesse período. O Hubble é considerado um dos instrumentos científicos de maior sucesso concebido para a exploração espacial e tem revolucionado a forma de ver o Universo.
Os astrônomos e engenheiros que conceberam o Hubble sabiam que este telescópio espacial que voa quase 600 quilômetros acima da imagem distorcida da atmosfera da Terra, iria fazer recuar as fronteiras da ciência. Apesar dos modestos 2,4 metros do espelho principal, os especialistas tinham a certeza que iria superar os telescópios terrestres de maiores dimensões.
Mas alguém poderia imaginar que este telescópio espacial, capaz de observar não apenas na luz visível, mas também próximo do infravermelho e do ultravioleta, conseguiria ver tão longe no tempo e alcançar tanto?
Em duas ocasiões, em 1995 e 2004, o Hubble mergulhou no passado visualizando uma pequena e aparentemente vazia parte do céu, mas que na verdade é habitada por milhares de galáxias em diferentes estágios de evolução, algumas das quais com 13 mil milhões de anos. No infinito de todas essas luzes, todos imaginaram que ali devem existir muitas outras civilizações como a nossa.
‘Evolução’ tem sido uma palavra-chave para Hubble. Nesta imagem, uma galáxia bebé chamada ‘I Zwicky 18’ – composta essencialmente por hidrogênio e hélio – ainda não deu origem a muitas estrelas. Elas estão presentes, mas mil milhões de anos mais antigas comparativamente com a maioria das outras galáxias.
Uma das primeiras e mais surpreendentes imagens do Hubble é a conhecida, ‘Pilares da Criação’ na Nebulosa da Águia. Uma imagem similar de uma turbulenta coluna cósmica na Nebulosa Carina foi emitida para comemorar 20 º aniversário do Hubble.
A imagem dramática capta a atividade caótica num pilar de gás, com três anos-luz de altura, onde o gás e a poeira estão a ser devorados pela luz d
e estrelas próximas. Dentro do topo das densas e incipientes estrelas estão a formar-se e a gerarem-se jactos de gás em espiral.
«Estas imagens são produzidas a partir de diferentes imagens produzidas com filtros que capturam a luz em frequências muito específicas e estas frequências produziriam no nosso olho uma resposta a uma cor que nós sabemos qual seria. Mas quando juntamos estas imagens numa imagem a cores, como estas que vemos aqui, existe um espectro de imagens finais que eventualmente poderíamos produzir que é o artista que tem que, de certa maneira, interpretar e dar um bocadinho da sua própria interpretação estética de como é que seria essa imagem no final, apesar de nós termos uma certa ideia de como é que ela seria. Cada pessoa, cada artista faria esta imagem de uma maneira diferente. Em certa medida dentro dessas balizas científicas», explica Luís Calçada, Ilustrador Científico, do Space Telescope-European Coordinating Facility (STECF).
Das estrelas aos planetas: no nosso Sistema Solar o Hubble tem dado imagens de pormenor, como por exemplo, do hemisfério norte de Plutão, com a face mais corada e brilhante do que em imagens anteriores, provavelmente devido ao derretimento de gelo no pólo no lado do planeta onde não existe Sol.
Muito mais distante, uma das imagens ópticas mais nítidas de um exoplaneta foi tirada a um disco de poeira em redor de uma estrela denominada de Fomalhaut. A nítida quebra no disco já tinha sugerido a presença de um planeta em movimento. O Hubble já confirmou por duas vezes a sua presença, uma autêntica proeza dada à luz extremamente fraca vinda do planeta, mil milhões de vezes menos brilhante do que a sua estrela-mãe.
Hubble foi até capaz de analisar a composição da atmosfera de alguns exoplanetas e detectar a presença de substâncias químicas como o sódio e o metano.
Dos nascimentos às mortes: a Nebulosa do Caranguejo mostra os restos de uma estrela que explodiu como uma supernova em 1054, avistada na altura por astrónomos chineses. As partes exteriores da antiga estrela formam esta rede de filamentos.
No centro da estrela, o núcleo ultra-denso tornou-se uma pulsar, com uma massa semelhante à do nosso Sol, mas numa esfera de apenas 10 quilómetros de diâmetro, lançando raios-X e ondas de rádio, à medida que gira a 33 vezes por segundo.
O astrônomo norte-americano Edwin Hubble demonstrou que o Universo se está a expandir. O telescópio, baptizado com o seu nome, tem também contribuído para uma maior compreensão das leis que regem o Universo.
A Teoria da Relatividade Geral diz que a massa influência a luz. O telescópio espacial mostrou isso muitas vezes. A imagem do Abell 370 mostra raios de luz de galáxias distantes a serem amplificados e curvados por este cluster de galáxias extremamente massivo e compacto que está cinco vezes mais perto. As pequenas curvas, semelhantes a arcos, mostram aquilo que hoje se denomina como uma ‘miragem gravitacional’.
No ano passado, os astronautas visitaram o Telescópio Espacial Hubble pela quinta e última vez. Cada missão serviu para corrigir a miopia inicial do Telescópio, para manter os sistemas da nave, e para mudar ou atualizar os espectrógrafos. Elementos-chave ao longo dos vinte anos de sucesso.
Hoje, os astrônomos sabem que o telescópio vai continuar a entregar imagens até 2014 ou até mais tarde. E quando finalmente o Hubble se retirar, o seu sucessor, o James Webb Space Telescope, outra missão conjunta da NASA e da ESA, vai estar pronto para continuar a fornecer mais fabulosas imagens do nosso Universo.
Imagem: NASA / Fonte: TV Ciência ONline