:: Por Alessandro Vianna ::
Compradores compulsivos são cerca de 3% da população brasileira e estão em todas as classes sociais. Todos conhecem pessoas que, quando tem tempo para comer, o fazem vorazmente. Alguns comem qualquer coisa, outros comem doces e muitos comem chocolates.
Conhecemos também os que bebem muito em pouco tempo. Há os que jogam, os que fumam, os que malham, trabalham e até os que dormem compulsivamente. Uma ação compulsiva é aquela que leva a um prazer temporário, com o qual queremos substituir uma frustração, contrariedade, ansiedade ou angústia. Alguns dos mais perigosos compulsivos são os que compram avidamente.
Atire a primeira pedra quem nunca relacionou compras com prazer. Obviamente, estamos em uma sociedade capitalista, onde o dinheiro tornou-se um recurso que muitas vezes foge ao nosso controle. O controle é exatamente o que nos falta quando cedemos à tentação de comprar sem planejamento prévio. É a compra emocional, muitas vezes do que não precisamos, que nos traz uma certa paz momentânea.
Depois desse clímax de consumo, nos vem ao menos dois problemas: nos arrependemos dos excessos cometidos e percebemos que, aquilo que nos perturbava, continua e voltará a nos incomodar a qualquer momento. Em se tratando de comprar compulsivamente, outros dois problemas podem aparecer: Um é o mau exemplo que percebemos que podemos estar dando a um filho, sobrinho ou afilhado.
Outro, se nosso orçamento não está tão folgado assim, é sabermos que gastamos dinheiro com algo desnecessário, que poderá nos impedir de poder comprar o que vamos precisar amanhã. Para a maioria dos brasileiros, essa compulsão pode levar a privações, a endividamentos e até a incômodos, como ficar com o nome restringido para crédito.Muita gente compra para obter status, por necessidade, ou até mesmo por modismo; mas há quem compre pelo simples prazer que esse ato proporciona. Essas pessoas são as chamadas consumidoras compulsivas e formam 3% da população brasileira.
Há compulsivos extremos, que chegam a fazer dívidas de até 10 vezes sua renda mensal, caindo numa situação quase que irreversível. Isso, por sua vez, acaba levando a uma maior ansiedade. Se a pessoa não se perceber como doente que precisa de ajuda, promoverá um ciclo interminável; que pode submetê-la a constrangimentos e mais situações desagradáveis.
Quando recebo algum paciente assim, meu primeiro objetivo é quebrar a crença de que “o ter” promove a felicidade. Obviamente, não sou hipócrita a ponto de dizer que o dinheiro não nos causa alguns prazeres; porém, é na palavra prazer que me apego. Algumas perguntas faço aos meus pacientes, repito aqui:
- Que tipo de prazer a compra promove?
- Quanto dura esse prazer?
- Compro inteligentemente quando é por compulsão ?
Normalmente obtenho a resposta que a compra dá um grande prazer ou alívio “temporário”, mas que esse prazer desaparece, levando ao desprazer. Diante disso, devemos fazer a seguinte reflexão:
Quais outros prazeres tenho em minha vida?
Você perceberá que, quem responder que tem muitos outros prazeres, dificilmente tem a compulsão por compra e, quem responder que não tem outros prazeres, deve ficar alerta e perceber que algo em sua vida está errado e deve ser revisto.
Comprar tem de ser uma pequena ação dentro de várias outras que devemos ter no decorrer de nossa vida, com o objetivo de obtermos algo de que precisamos. Quando comprar torna-se fundamental, está na hora de procurar ajuda. A compulsividade por comprar, como qualquer outra, se enquadra nos transtornos do espectro obsessivo-compulsivo. A pessoa acaba por tornar-se dependente dessas atitudes e elas passam a ocupar um lugar importante no seu cotidiano.
Para quebrar esse verdadeiro processo de dependência, a pessoa precisa solucionar o que realmente a incomoda, ou então aceitar essa contrariedade ou ansiedade como algo que não pode vencer. Parece irracional esse “entregar os pontos”, mas é muito racional e adulto reconhecermos nosso alcance e aceitar as derrotas. Afinal, somos todos sujeitos a limites.
Se tratar-se de algo realmente muito importante em sua vida, essa pessoa terá certamente forças para lutar e dominar a situação. Essa reação, por ser de alta responsabilidade, deve ser bem ponderada, com o máximo de racionalidade e o mínimo de emoção.
É aí que a presença de um psicoterapeuta vale a pena. Esse profissional vai ajudá-la a separar os diversos aspectos envolvidos, classificá-los, levar em conta os realmente mais importantes e a conduzir a sua mente para um estado de equilíbrio que a capacitará a solucionar o seu problema da melhor forma ao seu alcance.
Então, adeus compulsão.
:: Alessandro Vianna é Psicólogo e Psicoterapeuta