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zoonoses_artAnimais de estimação podem contribuir para melhorar a saúde física e mental de seus donos, mas a duração desses efeitos sobre a saúde psíquica das pessoas causa polêmica entre pesquisadores

:: por Scott O. lLlienfeld e Hal Arkowitz ::

Os animais fazem companhia e suprem as carências pessoais.

Em 1857, o escritor britânico George Eliot escreveu: “Os animais são amigos muito agradáveis. Não fazem perguntas nem manifestam desaprovação”. Essa natureza afável de cães, gatos, peixes e outros bichos intriga pesquisadores que buscam descobrir quais seriam os seus poderes terapêuticos ainda inexplorados. Uma das questões a serem esclarecidas é se os benefícios que eles trazem para a saúde – segundo muitos garantem -– são obtidos apenas pela diversão que proporcionam ou se a presença dos bichos pode, de fato, ser considerada terapêutica – a ponto de ser indicada por médicos e psicólogos para auxiliar no tratamento de seus pacientes.

O fato é que cada vez mais os bichinhos têm ocupado lugar de destaque na vida das pessoas – e, não raro, recebem a “responsabilidade” de suprir carências afetivas profundas de seus donos. Basta dizer que, no ano passado, o chamado “pet business” – negócios envolvendo animais de estimação e produtos destinados a eles – movimentou uma cifra recorde no Brasil: cerca de US$ 3,3 bilhões, com um crescimento de 17% em relação ao faturamento de 2006. Nos Estados Unidos, aproximadamente 63% dos lares abrigam mascotes, segundo dados da Associação Americana de Fabricantes de Produtos para Animais de Estimação. Embora controversos, diversos estudos sugerem que os moradores desses lares tendem a ser mais felizes do que as demais pessoas. Além disso, uma pesquisa coordenada por Erika Friedmann, da Escola de Enfermagem da Universidade de Maryland, em Baltimore, mostra que ter um bicho de estimação eleva as taxas de sobrevida em um ano entre vítimas de enfarte. Embora investigações como essa sejam de difícil interpretação (porque os donos de animais podem ter, eventualmente, menos fatores de risco cardíacos, se alimentem com dietas mais saudáveis e experimentem níveis mais baixos de hostilidade).

Esses trabalhos podem ser mais eficazes se os pesquisadores fizerem experiências em que selecionem ao acaso algumas pessoas para conviver com um animal – em laboratório ou em casa. Estudos feitos pelos psicólogos Karen Allen, da Universidade de Buffalo, e James Blascovich, da Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara, demonstram que a proximidade de um bichinho querido durante uma tarefa estressante – como resolver exercícios difíceis de aritmética, por exemplo – evita que aqueles que executam a atividade tenham picos de pressão arterial. O mesmo, porém, não ocorre na presença de um amigo.

O levantamento feito por Allen mostra também que corretores estressados e hipertensos da bolsa de valores, escolhidos ao acaso para adotar um cachorro ou um gato, registraram índices de pressão arterial mais baixos do que os de voluntários do grupo de controle que não tinham animais. Os resultados sugerem que a presença de bichos pode reduzir os níveis de stress, embora não apontem quais as razões para esse efeito. As conclusões também não informam se seria possível obter resultados similares com outros estímulos, como a presença de amuletos da sorte ou de outro objeto no qual fosse investido afeto, como uma planta ou um boneco de pelúcia, por exemplo.

Poucas pessoas contestariam a afirmação de que os animais de estimação são capazes de nos dar conforto, em especial em épocas de dificuldade ou solidão. Uma questão muito mais controversa diz respeito à eficácia das terapias assistidas por animais (AATs, na sigla em inglês), usadas no tratamento em si ou como complemento para uma psicoterapia. A escolha inclui desde cavalos, cachorros, gatos, coelhos, pássaros, peixes e porquinhos-da-índia até os golfinhos. Os problemas psicológicos para os quais se usa a AAT incluem esquizofrenia, depressão, transtornos de ansiedade, transtornos de alimentação, transtorno de hiperatividade/déficit de atenção e autismo, além de uma série de deficiências do desenvolvimento.

Scott O. lLlienfeld e Hal Arkowitz Scott é professor de psicologia da Universidade Emory; Hal é professor de psicologia da Universidade do Arizona. Ambos participam do conselho consultivo da Scientific American Mind, nos Estados Unidos.

(veja matéria completa Mente e Cérebro – Edição 190 – Novembro 2008)