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michaeljackson25062009O enterro de um dos maiores músicos do mundo pop acontece hoje. Embora o músico Michael Jackson tenha morrido no último dia 25 de junho devido a uma parada cardíaca, continuam as especulações de que sua morte tenha ocorrido em decorrência do uso excessivo de medicamentos. Contudo, só serão confirmadas ou não  tais hipóteses após a realização de testes toxicológicos da necropsia, que devem ter seus resultados confirmados apenas em agosto.

Este é apenas um provável caso de uso abusivo de remédios. No começo do ano, este foi o motivo que provocou a morte do ator Heath Ledger, de 28 anos. Segundo o Instituto Médico Legal de Nova York “Heath Ledger morreu em decorrência de intoxicação aguda pelo efeito combinado de oxicodona, hidrocodona, diazepam, temazepam, alprazolam e doxilamina”.

Por que isso continua acontecendo?

É clássico e todo mundo conhece: na dose certa, o remédio cura. Na concentração errada, pode matar ou piorar o quadro. O uso excessivo e intoxicação por medicamentos é mais comum do que se imagina. Segundo estimativas da Organização Muncial de Saúde, no Brasil anualmente são registrados cerca de 6 milhões de casos de intoxicação. O médico Anthony Wong, pediatra e diretor do Centro de Assistência Toxicológica do Hospital das Clínicas da USP (Universidade de São Paulo) alerta que a causa mais comum é o uso incorreto de medicamentos, seguida dos acidentes com produtos de limpeza.

“É consenso mundial que uma das principais causas de doença é o uso excessivo de remédios ou de substâncias químicas; podemos dizer que essa é a ‘peste bubônica’ do nosso século”, afirma o médico, que também é um dos especilistas que participaram do livro “Viva com mais Saúde”, lançado em comemoração ao aniversário de 75 anos da USP. “Qualquer remédio pode causar algum tipo de problema, mesmo os isentos de prescrição, como os antigripais, especialmente em crianças e idosos”, afirma.

O toxicologista comentou a recente recomendação de um painel de especialistas da FDA (Food and Drug Administration), o órgão regulador de remédios nos EUA, para reduzir o limite máximo de ingestão diária de paracetamol (Tylenol é um dos produtos com a substância) de 4 gramas, para 2,6 ou 3 gramas. Ele explica que se associado a outros medicamentos, o analgésico pode gerar problemas graves no fígado. “Se a pessoa tomar mais que três doses de bebida destilada, não deve consumir Tylenol”, alerta.

Automedicação

Segundo levantamento da Associação Brasileira das Indústrias Farmacêuticas (Abifarma), 80 milhões de pessoas confessam ser adeptas da automedicação no país. A consequência é que, por ano, 20 mil brasileiros morrem vítimas do mau uso das drogas. Outro dado alarmante vem do Centro de Assitência Toxicológica (Ceatox) da Universidade de São Paulo (USP): 40% das internações por intoxicação ocorrem pelo mesmo motivo.

“Seja por orientação da mãe, do vizinho, do balconista da farmácia, ou mesmo do ‘Dr. Google’, é muito elevado o percentual de brasileiros que se automedicam. O uso abusivo de medicamentos, sem orientação médica, certamente poderá levar o indivíduo a adoecer. Vários serão os problemas, não só cardiológicos, mas também agravos renais, no trato digestivo, dermatológicos e sanguíneos”, enumera o cardiologista do Hospital Brasília Anderson Rodrigues.

Diretora-secretá ria da Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia, em São Paulo, a alergologista Fátima Rodrigues Fernandes conta que é comum receber no ambulatório do Hospital Infantil Sabará, onde trabalha, pessoas com alergia e problemas estomacais provocados por remédios. Ela explica que todo remédio tem implicações negativas — as chamadas reações adversas descritas na bula. Porém, o uso errado ou abusivo pode despertar no organismo males imprevisíveis, como inchaços, asmas, úlceras, hemorragias e até mesmo choque anafilático. “Além disso, é preciso alertar as pessoas que, ao se automedicarem, elas correm o risco de mascarar uma doença que está por trás dos sintomas”, lembra.

Dor de Cabeça

Um dos casos em que se verifica o abuso na utilização de medicamentos é com relação a dor de cabeça. Cresce o número de  pessoas que de tanto tomarem remédios contra o problema, só agravam a doença. Eles tornaram-se vítimas da chamada cefaléia por excesso de medicação (cefaléia é o nome médico para dor de cabeça). Nos Estados Unidos, calcula-se que hoje este seja o motivo de metade dos casos de enxaquecas crônicas. No Brasil, estudos verificaram o abuso na utilização de drogas contra a dor em 65% de pacientes que tinham dor de cabeça diariamente. Pior. Na rotina dos consultórios especializados, aumenta dia a dia o atendimento a esse tipo de caso. “Isso é cada vez mais comum”, afirma a médica Carla Jevoux, secretária da Sociedade Brasileira de Cefaléia. A questão é tão grave que se tornou um dos principais temas de discussão do XXI Congresso Brasileiro de Cefaléia, realizado em Florianópolis, em Santa Catarina.

A princípio, o problema pode parecer paradoxal. Como um remédio contra a dor pode piorá-la? Porém, recentes pesquisas demonstraram que a questão não é tão intrigante quanto parece. Na verdade, o que ocorre é uma espécie de tentativa do organismo de fugir ao bombardeio de substâncias analgésicas a que é submetido. Descobriu-se que, quanto mais medicamentos, mais o corpo cria receptores para dor. É como se fossem abertas novas “janelas” para o sofrimento. O resultado é que o indivíduo fica mais vulnerável aos estímulos geradores da dor, como falta de sono, excesso de luminosidade ou um cheiro específico. Esse processo pode ser desencadeado quando uma pessoa toma remédios contra a dor por mais de dez dias por mês, durante três meses seguidos.

Esta é uma situação bastante comum por alguns motivos. O primeiro deles é que o acesso às medicações contra dor de cabeça é fácil (a maioria não precisa de receita médica para ser adquirida), incentivando a automedicação. “Os pacientes são estimulados a comprar por propagandas e balconistas de farmácia interessados em vender os produtos”, critica o médico Abouch Krymchantowski, especialista em cefaléia. Outro problema é o desconhecimento dos próprios médicos sobre a questão, o que muitas vezes os leva a dar orientações equivocadas aos pacientes, aumentando as doses de medicação desnecessariamente.

Um trabalho coordenado pela médica Carla Jevoux com pacientes de um centro especializado no tratamento da cefaléia do Rio de Janeiro deu uma idéia do resultado da combinação desses fatores. Entre os 65% de portadores de dor crônica que faziam uso excessivo de medicações, 32% recorriam a analgésicos simples (com apenas um composto ativo) e 67% utilizavam remédios com mais de um tipo de substância analgésica em sua composição. A pesquisa também revelou que o consumo de medicação por esses doentes variava de 3 a 4 comprimidos por dia.

Algumas iniciativas estão sendo tomadas para combater o crescimento da doença. Por um lado, a ciência está aprofundando suas investigações sobre a enfermidade. Entre os achados recentes está a constatação de que os indivíduos mais propensos apresentam baixo metabolismo no córtex orbitofrontal, área do cérebro responsável pelo processamento da dor. Também já se descobriu que os pacientes com cefaléia por excesso de medicação tendem a sofrer mais de ansiedade e de depressão do que os portadores de outros tipos de dor de cabeça. Em muitos deles também se observa um comportamento muito parecido com o manifestado por dependentes químicos, como se o ato de recorrer às medicações fosse um vício.

Todas essas informações ajudam a aprimorar o tratamento disponível. Hoje, ele consiste em uma atitude que, à primeira vista, assusta os pacientes: a interrupção completa do uso de remédios contra a dor. É o único jeito de quebrar o ciclo dor/medicamento/mais dor. Dá para se imaginar o impacto da orientação sobre quem estava acostumado a tomar medicamentos diariamente, como a estudante carioca Sabrina Nazar. “Fiquei assustada, mas confiei na minha médica”, conta. Durante mais de dois anos, ela chegou a recorrer a três comprimidos por dia para aplacar a dor de cabeça. Para ajudar na sua luta contra a doença, Sabrina foi medicada com um remédio contra a ansiedade e também foi liberada para tomar uma medicação somente nas crises mais sérias. O tratamento começou há nove meses. Há cinco, ela não tem mais episódios de enxaqueca.

A médica Elisa Reis, do Rio de Janeiro, é outra que tem o que comemorar. Ela sofreu de cefaléia durante um ano e meio, período no qual às vezes tomava mais de um comprimido por dia. Porém, a persistência da dor era tanta que ela remedios1chegava a faltar ao trabalho em alguns dias. Hoje em tratamento, que no seu caso também inclui uma medicação preventiva, ela experimenta um bom progresso. “Ainda tenho algumas crises, mas está bem mais tranqüilo. Posso inclusive trabalhar melhor”, diz.

O médico Stephen Barrett alerta para o uso prudente de medicamentos. Inicialmente, ele observa que os medicamentos devem ser utilizados com indicação médica. A chave para o uso eficaz e seguro de medicamentos é uma comunicação aberta com que os prescreveu, bem como a segurança e a eficácia do uso de uma droga depende da compreensão do regime da droga pelo paciente, seus riscos e benefícios, e as precauções necessárias associadas com cada medicamento.

Os seguintes itens devem ser observados:

  • Se você vai a mais de um médico, conte a cada deles sobre quaisquer medicamentos prescritos e por conta que você está usando. É uma boa idéia manter um registro com você. Também diga ao seu médico sobre qualquer reação medicamentosa adversa que você teve. 
  • Detenha-se à dosagem prescrita. Tomar doses extras pode aumentar as chances de reações adversas sem aumentar o benefício. E não pare de tomar um remédio porque você acha que não está funcionando. Algumas drogas têm que ser usadas por diversos dias ou mesmo semanas antes que seus efeitos sejam aparentes. Ao invés, contate seu médico para instruções. Mantenha um registro diário de todas as drogas que estão sendo usadas, especialmente se os horários do tratamento são complicados. 
  • Lembre-se que álcool e sedativos podem multiplicar o efeito de cada um sobre o cérebro. Não misture álcool e comprimidos para dormir, agentes ansiolíticos, ou quaisquer outras drogas que tenham efeitos sedativos. Se você bebe regularmente, assegure-se que seu médico saiba a respeito. 
  • Mantenha suas drogas em suas embalagens originais assim não ocorrerá nenhuma confusão sobre qual droga é qual. 
  • Lembre-se que pode ser arriscado compartilhar remédios com os outros. Quando prescrevem medicamentos, os médicos levam em conta a idade, peso e sexo do paciente, outros medicamentos que estão sendo tomados, e outros fatores. O que é bom para uma pessoa pode não ser bom para outra. 
  • Limpe seu armário de remédios periodicamente. Jogue fora quaisquer remédios que tenham sua data de validade vencida ou que tenham mudado de cor, odor, ou textura. Jogue no vaso sanitário assim ninguém mais poderá usá-los. Drogas prescritas para uma doença prévia ou para outra pessoa não deveriam ser usadas sem antes checar com o médico. A droga pode ter perdido sua força ou mudado sua composição, ou pode estar disponível uma droga mais apropriada para o doença. 
  • Ligue para o médico prontamente se ocorrer uma reação incomum à droga. 

Fonte: UOL Ciência e Saúde, Quackwatch e Sifesp