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Palavras-chave: Khanda, Símbolo do Siquismo, Sagrado, Sikhs.

O Khanda é o símbolo mais importante da religião sikh. A sua importância no Sikhismo pode ser comparada à da Estrela de David no Judaísmo, à Cruz no Cristianismo ou a fogo no Zoroastrismo.

A bandeira sagrada do Sikhismo, conhecida como Nishan Sahib, erguida em todos os templos sikhs (gurdwaras), inclui o Khanda.

Ele é resultado da junção de quatro armas:

  • ao centro, uma espada de dois gumes chamada Khanda, da qual deriva o nome de todo o símbolo. Representa o poder criativo de Deus que controla o universo. O gume esquerdo representa a justiça divina que castiga os opressores e o direito a liberdade e a autoridade inspirada em valores morais e espirituais;
  • em torno do Khanda encontra-se uma arma denominada Chakkar (ou Chakra), usada por quase todos os guerreiros sikhs do século XVIII. Apresenta uma forma circular pelo que simboliza a eternidade e a perfeição de Deus;
  • em ambos os lados, duas espadas de forma curva chamadas Kirpans. A espada que se encontra no lado esquerdo representa o poder espiritual (piri) e a do lado direito o poder temporal (miri). O Guru Hargobind foi o primeiro dos Dez Gurus do Sikhismo a usar duas espadas, que são hoje interpretadas como metáforas para a importância de desenvolver uma vida espiritual, mas também da necessidade de manter a paz (historicamente a comunidade sikh foi alvo de perseguições, pelo que esta teve que recorrer à auto-defesa para preservar a sua integridade).

A atual bandeira do Irão apresenta um símbolo parecido ao Khanda que não se encontra de qualquer maneira relacionado com o Sikhismo.

Fonte: Wikipedia (http://pt.wikipedia.org/wiki/Khanda)

ateuAmbos, tanto o ateu como o agnóstico não estão ligadas a nenhuma religião específica, podendo ser chamados de “sem religião” ou “não-religioso”. Nesse grupo encontram-se três principais vertentes, que se diferenciam principalmente pela postura filosófica: os dois já citados (ateus, agnósticos) e os deístas.

Ateus – negam a existência de qualquer Deus e da veracidade de qualquer religião teísta. Os ateus podem ser materialistas, não acreditam na alma humana, nem qualquer outro tipo de coisa que não seja material, ou podem ser espiritualistas, negando a existência de Deus mas podendo eventualmente aceitar certas idéias imateriais como a alma humana ou a reencarnação.

AGNOSTICOAgnóstico – entendem que as questões metafísicas (ou transcendentais) não são passíveis de análise pela razão humana. O agnóstico se exime das questões religiosas, preferindo ficar neutro. Ou seja, ele não “rejeita”, nem “aceita”, apenas isenta-se deste tipo de questão.

Deístas – acreditam na existência de um Ser Superior (ou Deus), e defendem que a existência de Deus pode ser compreendida por intermédio da razão. Contudo, os deístas, geralmente, não seguem qualquer religião denominacional. Para o deísta, as pessoas devem assumir a responsabilidade pelos seus atos, e procurarem a felicidade nesta vida terrena, ao invés de aceitarem os tormentos das injustiças sociais em prol de uma vida eterna de caráter duvidoso. Os conceitos de “inspiração” e “revelação divina” não são negados, mas o deísta entende que estes acontecimentos são pessoais e específicos para quem os recebeu – se realmente os recebeu.

Personalidades não-religiosas – Atualmente, há em diversos segmentos sociais pessoas que assumem uma postura não-religiosa pelos motivos mais variados. Abaixo algumas personalidades contemporânea que se declararam não religiosas:

  • Agostinho Neto, primeiro presidente de Angola.
  • Arnaldo Jabor, cinesta e escritor brasileiro.
  • Bertrand Russell, filósofo e matemático inglês.
  • Bill Gates, fundador da Microsoft.
  • Carl Sagan, astrônomo estadunidense.
  • Camila Pitanga, atriz brasileira.
  • César Maia, ex-prefeito da cidade do Rio de Janeiro.
  • Che Guevara, lider político argentino.
  • Dias Gomes, autor brasileiro de novelas.
  • Dráuzio Varella, médico brasileiro.
  • Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente do Brasil.
  • Francisco Milani, ator brasileiro.
  • Friedrich Nietzsche, filósofo alemão.
  • Graciliano Ramos, escritor brasileiro.
  • José Saramago, escritor português e prêmio nobel de literatura.
  • Machado de Assis, escritor brasileiro.
  • Marcelo Gleiser, físico brasileiro.
  • Luis Carlos Prestes, político brasileiro.
  • Mario Lago, ator brasileiro.
  • Oscar Niemeyer, arquiteto brasileiro.
  • Paulo Autran, ator brasileiro.
  • Richard Dawkins, biólogo britânico.
  • Ruth Cardoso, socióloga e ex-primeira dama do brasil

Vipassana é um método de meditação originário do Budismo Hinayana e é considerada como uma das mais antigas técnicas de meditação da Índia. Vipassana é o termo em pali, antiga língua e foi citada nos discursos de Sidharta Gautama, o Buda e atribui-se a ele a redescoberta há mais de 2500 anos e ensinamento como um remédio universal para males universais.
 
Em sânscrito, na língua indiana, é denominado vipashyana. Na língua tibetana se chama lhatong. A palavra vipashyana vem de “vi”, que quer dizer: especial, específico, superior; e pashyana que significa: visão, olhar. Ver de forma clara, direta, objetiva, cristalina. A palavra lhatong também tem o mesmo sentido em “lha”, especial, e “tong”, ver. Visão clara, visão interior, visão aberta, ou visão das coisas como elas são. Essa antiga prática pode ser utilizada por qualquer pessoa, devido a sua simplicidade técnica.

A Técnica

Toda a prática está voltada para a auto-observação, para o estar consigo, com a atenção no presente. Com os exercícios estuda e pratica a uma maior compreensão e contato interior. É definida como uma experiência do insight (in, dentro – sight, visão, ou experiência de visão interior). Vipassana é uma meditação que, no seu pleno desenvolvimento, vai clareando o espaço interior da mente dos pensamentos e dos movimentos confusos, até que se possa apreciar e relaxar nas coisas como elas são.

Vipassana é uma meditação que desenvolve a claridade panorâmica – a claridade do espaço – em que o contínuo surgimento e desaparecimento de pensamentos e emoções deixam de ser um problema por meio da espacialização da mente. Visa a total erradicação das impurezas mentais e a resultante suprema felicidade da liberação completa. A cura, não a mera cura de doenças, mas a cura essencial do sofrimento humano, é o seu propósito.

 Seu foco é a profunda interconexão entre mente e corpo, que pode ser experimentada diretamente pela atenção disciplinada às sensações físicas, que, por sua vez, constituem a vida do corpo e continuamente se interconectam e permitem a vida da mente. É essa jornada de autoconhecimento baseada na observação — que objetiva a raiz comum da mente e do corpo — a responsável pela dissolução das impurezas mentais, resultando numa mente em equilíbrio, cheia de amor e compaixão.

As leis científicas que regulam os pensamentos, sentimentos, julgamentos e sensações se tornam claras. Pela experiência direta, compreende-se a natureza de como se progride ou regride, como se produz ou se liberta do sofrimento. A vida começa a se caracterizar por consciência, libertação de ilusões, autocontrole e paz cada vez maiores.

Pelo sua qualidade modificadora, a Vipassana tem sido ensinada em prisões da Índia, Israel, Mongolia, New Zealand, Taiwan, Thailand, U.K., and the United States.

Parece filosófico de mais? Não é. É prática pura. Só participando para saber o significado concreto e real desta experiência.

O Curso

Normalmente, a técnica é ensinada em retiros de 10 dias. Não há vínculos religiosos, ou seja, sem ritos, compromissos espirituais ou cerimônias rígidas. A proposta é aproveitarmos a possibilidade da prática e estudo em ambiente adequado, para criar maior familiaridade com a prática, além de se trabalhar os obstáculos e o amadurecimento da meditação.
O retiro é aberto às pessoas que desejam começar a praticar, assim como a antigos praticantes que desejam receber novas fundamentações e aprendem os fundamentos do método e praticam o suficiente para experimentar seus resultados benéficos.

O curso requer trabalho sério e árduo. Há três passos no treinamento. O primeiro passo é abster-se — durante todo o curso — de matar, roubar, manter atividade sexual, mentir e se intoxicar. Esse simples código de conduta moral serve para acalmar a mente que, de outra forma, estaria muito agitada para executar a tarefa de auto-observação.

O próximo passo é desenvolver o domínio da mente aprendendo a fixar a atenção na realidade natural do fluxo da respiração, sempre mutável, enquanto entra e sai das narinas.

Com a mente está mais clara e mais em foco, mais preparada, portanto, para empreender a prática de Vipassana em si: observar as sensações por todo o corpo, compreendendo sua natureza e desenvolvendo a equanimidade, aprendendo a não reagir a elas.

Finalmente, no último dia os participantes aprendem a meditação de amor ou boa vontade frente a todas as coisas, quando a pureza desenvolvida durante o curso é partilhada com todos os seres. A prática inteira é, na verdade, um treinamento mental. Exatamente como usamos exercícios físicos para melhorar a saúde de nosso corpo, Vipassana pode ser utilizado para desenvolver uma mente saudável.

Veja depoimento.

Fonte: Dhamma Org

:: Por S.N. Goenka ::

Quando há escuridão, a luz é necessária. Hoje, com tanta agonia provocada por conflito violento, guerra e derramamento de sangue, o mundo precisa urgentemente de paz e harmonia. Este é um grande desafio para os líderes religiosos e espirituais. Aceitemos este desafio.

Toda religião possui uma forma ou uma aparência exterior e uma essência ou núcleo interior. A aparência exterior consiste de ritos, rituais, cerimônias, crenças, mitos e doutrinas. Isto varia de uma religião para a outra. Mas existe um núcleo interior comum a todas religiões: os ensinamentos universais de moralidade e de caridade, de uma mente disciplinada e pura cheia de amor, compaixão, boa vontade e tolerância. É este denominador comum que os líderes religiosos devem enfatizar, e que os seguidores religiosos devem praticar. Se for dada a importância adequada à essência de todas as religiões e for mostrada maior tolerância pelo seu aspecto superficial, o conflito poderá ser minimizado.

Todas as pessoas devem ser livres para professar e seguir a sua fé. Ao fazerem isso, contudo, elas devem ter cuidado para não negligenciarem a prática da essência de sua religião, para não perturbarem os outros pela prática de suas próprias religiões e para não condenar nem menosprezar outras fés.

Em razão da diversidade das fés, como superamos as diferenças e atingimos um plano concreto para a paz? O Buda, o Iluminado, era freqüentemente procurado por pessoas de diferentes pontos de vista. Para eles, dizia “Deixemos as nossas diferenças de lado. Demos atenção àquilo onde possamos concordar e coloquemos isso em prática. Por que discutir?” Este sábio conselho ainda é válido hoje em dia.

Eu venho de uma terra antiga que deu origem a muitas e distintas escolas filosóficas e espirituais ao longo dos milênios. Apesar de casos isolados de violência, o meu país tem sido um modelo de co-existência pacífica. Há 2.300 anos era dirigido por Ashoka, o Grande, cujo império se estendia do atual Afeganistão a Bangladesh. Em todo o seu reino, este dirigente cheio de compaixão fez inscrever editos em pedra, proclamando que todas as fés deveriam ser respeitadas e, conseqüentemente, seguidores de todas as tradições espirituais se sentiam seguros sob sua jurisdição. Ele pedia às pessoas para levarem uma vida moral, respeitarem os pais e idosos, e se absterem de matar. As palavras que utilizava para incentivar os seus súditos ainda são relevantes hoje em dia:

Um indivíduo não deveria somente honrar a sua própria religião e condenar outras religiões. Em vez disso, dever-se-ia honrar outras religiões por diversas razões. Ao fazer isso, ajuda-se a sua própria religião a crescer e se presta serviço à religião dos outros. Ao agir diferentemente, cava-se uma cova para sua própria religião e se prejudicam outras religiões igualmente. Alguém que honra a sua própria religião e condena outras religiões pode fazer isso por devoção à sua própria religião, pensando, “Eu glorificarei a minha religião”; mas esta ação prejudica a sua própria religião mais seriamente. A concórdia é boa. Que todos escutem e se disponham a ouvir as doutrinas professadas por outros. (Edito em pedra 12)

O Imperador Ashoka representa uma tradição gloriosa de co-existência tolerante e de síntese pacífica. Aquela tradição sobrevive entre governos e dirigentes hoje em dia. Um exemplo é o do Nobre Monarca de Omã, que doou terra para a construção de igrejas e de templos de outras crenças, enquanto pratica a sua própria religião com toda a devoção e empenho. Eu tenho certeza de que tais líderes e governos compassivos continuarão a aparecer no futuro em muitos lugares em toda a parte do mundo. Como se diz, “Abençoados são os promotores da paz, pois ele serão chamados de filhos de Deus.”

Está mais do que claro que os adeptos da violência primeiramente ferem seus próprios amigos, vizinhos e familiares. Eles podem fazer isso diretamente, por intermédio de sua intolerância ou indiretamente ao provocar uma resposta violenta às suas ações. Por outro lado, diz-se “Abençoados são aqueles cheios de misericórdia pois eles irão obter a misericórdia.” Esta é a lei da natureza. Ela pode ser igualmente chamada de decreto ou caminho de Deus. O Buda disse, “A animosidade pode ser erradicada não pela animosidade, mas somente pelo seu oposto. Este é um eterno Dhamma (lei espiritual).” O que é chamado de Dhamma na Índia nada tem a ver com hinduismo, budismo, jainismo, cristianismo, islamismo, judaísmo, sikhismo ou qualquer outro “ismo”. Esta é a verdade simples: antes de prejudicar outros, você primeiro se prejudica a si mesmo ao gerar negatividade mental; e ao remover a negatividade, você pode encontrar a paz interior e fortalecer a paz no mundo.

Paz na Mente para a Paz no Mundo

Cada religião digna desse nome convoca seus seguidores para levarem um estilo de vida moral e ético, para atingirem o domínio da mente e para cultivarem a pureza do coração. Uma tradição nos diz, “Ame o seu Vizinho”, outra diz, Salaam Malekum – “Que a paz esteja convosco”; ainda outra diz, Bhavatu sabba mangalam ou Sarve bhavantu sukhinah – “Que todos os seres possam ser felizes”. Seja a Bíblia, o Alcorão ou o Gita, as escrituras chamam pela paz e pela amizade. De Mahavira a Jesus, todos os grandes fundadores de religiões foram ideais de tolerância e de paz. No entanto, o nosso mundo é freqüentemente movido a disputas sectárias e religiosas ou até mesmo pela guerra – porque nós damos importância somente para a aparência exterior da religião e negligenciamos a sua essência. O resultado é uma carência de amor e compaixão na mente.

A paz no mundo não pode ser atingida a não ser que haja paz dentro dos próprios indivíduos. Agitação e paz não podem co-existir. Um caminho para se atingir a paz interior é Vipassana ou a Meditação da Introspecção – uma técnica de auto-observação e de experimentação da verdade, não-sectária, científica voltada para resultados. A prática dessa técnica traz a compreensão experimental de como a mente e o corpo interagem. Sempre que a mente gera amor desinteressado, compaixão e boa vontade, o corpo inteiro é invadido por sensações agradáveis. A prática de Vipassana também revela que a ação mental precede cada ação física ou vocal, determinando se aquela ação será saudável ou insalubre. A mente é o que mais importa. É por isso que nós devemos encontrar métodos práticos para tornar a mente pacífica e pura. Tais métodos amplificarão a eficácia da declaração conjunta que emergirá dessa Reunião de Cúpula para a Paz no Mundo.

A Índia Antiga deu duas práticas ao Mundo. Uma é o exercício físico das posturas do ioga (Asanas) e o controle da respiração (Pranayama) a fim de manter o corpo saudável. A outra é o exercício mental de Vipassana a fim de manter a mente saudável. Pessoas de quaisquer credos podem e de fato praticam ambos os métodos. Ao mesmo tempo, elas podem seguir suas próprias religiões em paz e harmonia; não há necessidade de se converter, uma fonte comum de tensão e de conflito.

Para a sociedade ter paz, mais e mais membros da sociedade devem ser pacíficos. Como líderes, nós temos a responsabilidade de dar o exemplo, de ser uma inspiração. Um sábio certa vez disse, “Uma mente equilibrada é necessária para equilibrar a mente desequilibrada dos outros.”

De forma mais ampla, uma sociedade pacífica encontrará uma forma de viver em paz com o seu entorno natural. Nós todos entendemos a necessidade de se proteger o meio ambiente, de parar de polui-lo. O que nos impede de agir com base nesse entendimento é o estoque de poluentes mentais, tais como a ignorância, a crueldade e a ganância. Ao remover tais poluentes promover-se-á a paz entre os seres humanos, assim como uma relação equilibrada e saudável entre a sociedade humana e o seu meio ambiente natural. Esta é a forma pela qual a religião pode garantir a proteção do meio ambiente.

Não-Violência: a Chave para uma Definição de Religião

É inevitável existirem diferenças entre religiões. No entanto, ao virem a esta Reunião de Cúpula para a paz no Mundo, os líderes de todas as maiores fés mostraram que querem trabalhar pela paz. Deixem, então, a paz ser o primeiro princípio da “religião universal”. Declaremos em conjunto que nos iremos abster de matar, que condenamos a violência. Eu também invoco os líderes políticos a se juntarem a nós nesta declaração, dada a importância estratégica de suas ações em prol da paz ou da guerra. Caso se juntem ou não a nós nessa declaração, deixem-nos pelo menos deixar claro aqui e agora: em vez de aceitarmos a violência e o extermínio, deixem-nos declarar que condenamos incondicionalmente tais atos, especialmente a violência perpetrada em nome da religião.

Certos líderes espirituais tiveram a sagacidade e a coragem de condenar a violência cometida em nome de sua própria fé. Pode haver visões filosóficas e teológicas diferentes sobre o ato de se buscar o perdão ou o arrependimento por ações passadas de violência e de extermínio; mas o próprio reconhecimento da violência praticada no passado implica no fato de ter sido equivocada e de que não será aceitável no futuro.

Sob a égide da ONU, deixem-nos tentar formular uma definição de religião e de espiritualidade com destaque para a não-violência, e com rejeição a qualquer apoio à violência e ao extermínio. Não haveria infortúnio maior para a humanidade do que se deixar de definir religião como sinônimo da paz. Esta reunião de cúpula poderia propor um conceito de “religião universal” ou de “espiritualidade não-sectária”, para endosso da ONU.

Estou seguro de que esta reunião de cúpula ajudará a focar a atenção do mundo no propósito verdadeiro da religião.

A religião não nos divide, ela ensina a paz e pureza de coração.

Eu me congratulo com os organizadores desta histórica reunião de cúpula pela sua visão e pelo seu esforço. E eu me congratulo com os líderes religiosos e espirituais que tiveram a maturidade para trabalhar pela reconciliação, dando esperança à humanidade que a religião e a espiritualidade nos levarão a um futuro pacífico.

Que todos os seres possam estar livres da aversão e ser felizes.

Que a paz e a harmonia possam prevalecer.

:: Sr. Goenka é um professor leigo de meditação Vipassana na tradição do falecido Sayagyi U Ba Khin da Birmânia (Mianmar). Discurso proferido na Reunião de Cúpula do Milênio sobre a Paz Mundial na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, em 2000 (Há 9 anos, mas tão atual).

047a:: Por Elisa ::

No final do mês de julho fui para um retiro de meditação Vipassana. É incrível como isso mexe com a curiosidade das pessoas. Muitos dos meus amigos e conhecidos vieram me perguntar como foi e, principalmente, se foi difícil passar 10 dias sem falar. Resolvi compartilhar a experiência com todo mundo. Afinal, é algo que vale a pena. Espero que também ache.

Como o retiro se localiza em Miguel Pereira…  as opções para chegar lá eram um pouco complicadas, depois de muito pensar, decidi ir de carro. Peguei o meu GPS e coloquei o pé na estrada. Até um determinado ponto, perfeito. Tudo certinho. Mas, próximo a cidade de Vassouras… percebi que embora eu trafegasse pela estrada, o GPS indicava que eu praticamente estava dentro da mata ou pior, do rio. A voz feminina tão educadinha falava pra entrar a direita, mas não tinha direita para eu entrar… A tecnolo3255684522_8d3713445fgia é magnífica, mas nem sempre perfeita. Tenho certeza de que se houvesse GPS na época de Móises, quando  ele ficou  40 anos perdido no deserto  com seu povo, certamente seria um GPS igual ao meu. Como não podia esperar tanto tempo como Moises para chegar ao meu destino, resolvi usar outros métodos tradicionais: parei num posto de gasolina e perguntei… Liguei para o retiro para ter as indicações. Devia aproveitar, afina ainda podia falar.

Após chegar e me acomodar, iria fazer um lanche e receber as orientações. Durante a permanência no retiro deveríamos observar 5 preceitos: abstenção de matar qualquer ser, de roubar, de toda atividade sexual, de mentir e de todo tipo de intoxicantes. Isso ia ser, como diriam os americanos, “piece of cake”. Todos os alunos devem observar o Nobre Silêncio – o silêncio do corpo, palavra e mente – desde o início do curso até a manhã do último dia. Daquele momento em diante era proibida toda forma de comunicação com os outros alunos, seja por meio de gestos, palavras, notas escritas, etc. Bom, aí, como bons brasileiros comunicativos, seria um pouquinho mais difícil. Mas, tentaria. À noite começou e o nobre silêncio também.

O problema é que minha cabeça estava na n3254855937_d8d9ab9b56obre atividade. Escutava todo tipo de música de Alcione a Cidade Negra. Eita, cabeça que não parava. De repente… “ Lá vem o negão cheio de paixão… te catar, te catar…” Fala sério, será que a minha mente não tinha um repertório melhor? Nada contra essas músicas… Mas, vamos combinar, nada a ver com um retiro de meditação. Até eu conseguir desligar o rádio interno, levou um bom tempinho, mas consegui.

Fui tomar o meu banho, afinal uma mente sã começa por um corpo são e limpo, é claro. Entrei no chuveiro pensando nos voluntários, o pessoal da cozinha, da organização. Ninguém receberia nada por estar lá. “Puxa, que almas abnegadas” E pensando nisso meus olhos percorreram o banheiro e pararam no ralo. “Havia alguém que buscava aquietar a mente e certamente após o banho era uma alma descabelada. santi1Bom, não iria condenar ninguém. Afinal, a queda de cabelos é natural… mas, provavelmente a dona dos ex-cabelos, além de estar descabelada, deveria ter um severo problema de visão. Afinal, como não ver aquela montanha de cabelos? Impossível. Enfim, não pensaria nisso”. Mas, a cena se repetiu todos os dias, durante 10 dias. Ao final do período se tivesse juntado todos os cabelos poderia fazer uma peruca.

Quando na manhã seguinte, o sino tocou às 4 da manhã, percebi que aquilo era bem real e que a meditação começaria às 4h30 e o pior, o café da manhã só seria às 6h30.

A programação diária era sempre a seguinte:

04:00      Chamada
04:30-06:30   Meditação na sala ou no quarto
06:30-08:00   Desjejum e descanso
08:00-09:00   Meditação em grupo na sala
09:00-11:00   Meditação na sala ou no quarto, segundo as instruções do professor
11:00-12:00   Almoço
12:00-13:00   Descanso e perguntas individuais com o professor
13:00-14:30   Meditação na sala ou no quarto
14:30-15:30   Meditação em grupo na sala
15:30-17:00   Meditação na sala ou no quarto, segundo as instruções do professor
17:00-18:00   Lanche e descanso
18:00-19:00   Meditação em grupo na sala
19:00-20:15   Palestra do professor na sala
20:15-21:00   Meditação em grupo na sala
21:00-21:30   Perguntas abertas na sala
21:30   Repouso. Apagam-se as luzes

Quando vi a programação percebi que eram mais de 11 horas de meditação. Questionei sinceramente a minha sanidade. Tudo bem que eu era considerada louquinha por meus amigos, mas 11 horas de meditação era um exagero total. Porém, já que estava ali, iria tentar… No primeiro dia, o sono chegava a toda hora. Senti minha cabeça pesada. Minhas costas doloridas, minhas pernas dormindo antes de mim… Para acordar abria os olhos e observava as outras pessoas meditando ou quase… Algumas cabeças pendiam para frente. Então, percebi que não era só eu que estava com sono.

Sempre achei lindo, as pessoas sentarem em posição de flor de lótus. Tão lindo! Tentei. Nada. As pernas não obedeciam. Tentei meia flor de lótus. Já que uma inteira não dava, meia podia ser… Foi quando ouvi um plect. “Alguém tem um alicate? Ou quem sabe uma chave de fenda? ”, pensei em vão. Não podia falar. Ai, Meu Deus! Depois de muito esforço consegui soltar as pernas. Percebi então que o melhor era ficar, já que eu sou brasileira, na posição de vitória régia mesmo. Mais seguro. Afinal, as vitórias régias são tão lindas também. Virei fã incondicional das Vitórias Régias.

A comida vegetariana nunca satisfez o meu paladar. Gosto de pratos com alho3255680172_67b4e07e0d, sal, ou seja, mais condimentados. Mas, só percebi que, embora não seja fã, a comida fazia uma falta danada. Num dos dias, pensei em tomar banho quando tocasse o sino para o almoço e depois, almoçar. Normalmente, a qualquer hora, levava-se uma eternidade em filas para tomar banho, mas na hora do almoço não. Quando cheguei ao refeitório, qual foi a minha surpresa. Não tinha sobrado nada além de salada. Deu-me uma tristeza tão grande que senti meu corpo todo chorar. Fazer o quê, né? Todos fazemos escolhas o tempo todo, e eu escolhi tomar banho. Azar. Ia ter que esperar até o lanche. Naquele dia, fui meditar com uma sensação de vazio… interno.

Sempre ao final das meditações, era colocada uma gravação do Goenka, o responsável por difundir3255681848_cd788c620c_o a técnica, entoando cânticos. Num dos dias, ouvi uma segunda voz acompanhando o cântico, tão cavernosa quanto o do velho mestre. Abri discretamente um dos olhos para ver de onde vinha tal som… e qual não foi a minha surpresa ao descobrir que era a minha barriga. Que vergonha! Será que alguém tinha percebido? Mas, o pior estava por vir… Em outra ocasião, no meio da meditação, ouvi um rugido monstruoso, parecia um animal ferido. Não, não era. Era meu estômago de novo, só que agora partira para a carreira solo. Não tive dúvidas, ao voltar para o quarto, tomei um remédio. Será que era isso que eles queriam dizer com intoxicantes? Bom, de toda maneira, meu estômago não voltou a incomodar mais. Ficou quieto. Acho que aderiu ao nobre silêncio por livre e espontânea pressão. A minha.

Fiquei muito impressionada com o fato de não podermos matar nenhum ser vivo. Nunca fui adepta de matar nada. A não ser baratas e pernilongos. Enfim, fui para o quarto meditar, ao me levantar da cama, meu coração parou. Havia sentado numa formiga, que estava com as patinhas para cima. Será que poderia tentar ressuscitá-la? Nunca tinha tentado fazer boca a boca, muito menos numa formiga. Se tentasse massagem cardíaca, se ela não tivesse morrido, certamente morreria. Pensei em pedir socorro. Meu coração disparou. Precisava de um copo de água com açúcar… mascavo (o refinado nem pensar). Mas, como? Não podia falar. Pensei em fazer um funeral. Sei lá. Algo que aliviasse a minha culpa. Naquele dia fui falar com o professor assistente, que me garantiu que não deveria ficar pensando nisso, pois foi sem querer, mas “há que tomar mais cuidado da próxima vez”. Pude enfim, respirar aliviada. Dias depois, vi uma das minhas colegas de meditação matar um pernilongo sem dó nem piedade. Enfim, cada um encara as coisas de modo tão diferente!

075Adorava o cheiro do mingau de manhã, os banhos, olhar a natureza após as refeições, a neblina, as palestras à noite. Mas, reconheço que pensei em fugir duas  vezes. Como havia deixado os objetos importantes sob a guarda da administração: dinheiro, documentos, chave do carro, cartões, estava órfã de pai e mãe. Apesar de estar com um cartão de débito,  desisti da idéia quando lembrei da cidadezinha mais próxima. Não parecia ter caixa eletrônico. E, com eu viajaria sem documentos? Faltavam poucos dias pra terminar. Eu podia agüentar. Afinal, o problema é que quando sentimos ameaçados na nossa zona de conforto é assim mesmo.

Brincadeiras a parte… Nesse processo, posso contar várias coisas, mas a principal delas é que aprendi a me conhecer melhor, a repensar meus dilemas sob a ótica de que tudo é impermanente. Sempre gostei muito da minha própria companhia. Já tinha percebido isso numa outra viagem que fiz e adorei ficar sozinha. Eu não ia morrer ou sofrer se não falasse com ninguém. Aprendi a controlar, ou a não dar atenção, para as dores do corpo, que até foram poucas perto do que eu esperava.  A grande certeza a que cheguei é minha mente era capaz de me distrai3254853421_5c31168becr constantemente. Pela primeira vez em muito tempo, e olha que já fiz dança, natação, aeróbica, bicicleta, percebi que há sensações pelo meu corpo inteiro. Ele pulsa, com lembranças de cada momento, de cada vão sofrimento, com cada prazer. Isso era incrível. Testei também a minha paciência. Aprendi a olhar os outros de outra forma, com mais aceitação, com mais compreensão. Tenho me policiado para não fazer julgamentos nem deixar o preconceito imperar. Aprendi a respeitar mais a vida, inclusive dos pequenos insetos. Aprendi a ser mais tolerante. Percebi que a comida vegetaria, apesar de eu não gostar tanto assim, fez muito bem ao meu organismo (estou até pensando em adotá-la em minha dieta diária). Conheci gente maravilhosa. E, depois de tanto tempo, eu finalmente conheci ou reconheci alguém super importante: eu mesma. E foi uma descoberta incrível. Continuo com a máxima: “Eu me amo. E a recíproca é verdadeira”.  Porque acho que só a gente se amando a gente pode amar os outros e valorizar a vida. Assim que for possível pretendo repetir a dose, ou seja, fazer mais um retiro e também ser voluntária em outro. Por isso, recomendo mesmo. Como li em algum lugar é um divisor de águas na vida de qualquer pessoa.

Na vida não podemos evitar as mudanças(cambios), não podemos evitar as perdas. A liberdade e a felicidade se fundamentam na facilidade com que enfrentamos as mudanças. (BUDA)
 
Todas as manhãs renascemos. O que fazemos hoje é o que mais importa. (BUDA) 

Com os pensamentos, as palavras e com o coração desejo agradecer a todos que possibilitaram esse experiência maravilhosa e que todos encontrem a felicidade e a paz.

Veja matéria sobre Vipassana.