:: Por Paulo Ricardo Mubarack ::
Quando eu era mais jovem e inexperiente, engenheiro dos pés até a cabeça, não entendia por que profissionais medianos eram promovidos para gerentes ou diretores em detrimento a outros mais qualificados tecnicamente. Gente mediana passava a chefiar gente com mais talento técnico. Com o passar do tempo, descobri qual era a qualidade que alguns medianos possuíam e que os faziam superar pessoas mais talentosas: eles não mentiam, eram de absoluta confiança dos proprietários. O presidente de uma empresa certa vez me ensinou: “Mubarack, ele disse, para o cargo de diretor financeiro, 99 % de confiança não serve. Ou é 100 % ou é nada”.
Um leitor atento pode perguntar: “mas não mentir, ser honesto, desfrutar 100 % da confiança dos donos de um negócio, não é o usual, não é o normal? Afinal de contas, a maioria das pessoas, especialmente profissionais que labutam nas empresas, não mente, não é mesmo?”. Não, não é mesmo. Boa parte dos profissionais mentem. Lamento destruir alguma ilusão de um mundo melhor e não temo ser chamado de radical. Muita gente “boa” mente. Alguns mentem até por hábito, omitem fatos importantes, algumas mentiras são desleais e outras são pequenas, mas todas elas comprometem de forma irreversível a confiança dos patrões. Mentira tem pernas curtas, esta é uma verdade absoluta. Nas negociações entre clientes e fornecedores, por exemplo, a mentira é praxe, é comum e até é admitida com o eufemismo “esperteza”.
Empresários não são bobos e percebem claramente quem mente e quem não mente. Nos menores detalhes, o mentiroso se trai. Às vezes, é tolerado, mas não ganha a confiança e sempre será preterido para cargos realmente da confiança do dono. Na posição de empresário e de consultor, compreendo hoje perfeitamente o valor de quem não mente. Quem não mente vale simplesmente OURO para seus empregadores e para seus clientes. Quem não mente é um profissional raro porque técnica você compra na primeira esquina, soluções habilidosas você adquire em um livro, seminário e cabem até em um CD. Confiança, porém, é um diamante raro, e precisa ser preservada. Quando você é dono do patrimônio ou simplesmente é um gestor com posição alta na sua empresa, você precisa do seu time cada vez mais. E você precisa de gente que não minta, por pior que seja a notícia. Por isto, técnicos brilhantes, interlocutores enfáticos e grandiloquentes e mentes brilhantes são frequentemente vencidas pelo caráter de pessoas medianas, mas que não mentem.
Obviamente, não separei o mundo nos inteligentes que mentem e nos medianos que não mentem. Apenas expliquei com clareza o que vai na alma de um empresário. E lá existe a valorização de quem não mente. Estes, brilhantes ou não, têm o perfil adequado para os cargos mais importantes de uma organização.
:: Paulo Ricardo Mubarack é consultor