Ficantes ou passantes?

Publicado: 29/07/2009 por Elisa em Atualidades, Psicologia & Comportamento
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Celulares perdidos, missões espirituais, invasões de extraterrestres: hoje em dia, tudo serve
de desculpa para os moços que adoram desaparecer sem deixar vestígios.

:: Por Leila Ferreira ::

O enredo é simples: eles se conhecem, saem juntos uma ou duas vezes, ela começa a se envolver, e ele faz o quê? Inventa uma desculpa esfarrapadíssima para sair fora ou simplesmente desaparece. ‘Lembra-te que és pó e ao pó voltarás’, dizia a inscrição na entrada dos antigos cemitérios. Os homens de hoje estão levando as palavras do evangelho a sério. Quando o ficar ameaça virar romance, eles se pulverizam. Ou seja: os ficantes nunca ficam. Nesse caso, não seria mais adequado chamá-los de passantes? Ou transeuntes? Faço a pergunta a Márcia, que está sempre se queixando dos homens que evaporam. ‘Passantes eu tinha antigamente’, responde a relações-públicas. ‘Hoje só me aparecem andarilhos -não contam onde moram, não dão o número do telefone e, quando a gente menos espera, já estão com a mochila nas costas.’

‘Ficante que não fica’ assumido, Roberto, professor universitário, proclama: ‘Minha fila não anda: ela faz spinning. Se elas exigem uma explicação, falo que perdi meu celular e fiquei sem o número delas’. É a desculpa mais recorrente. A quantidade de aparelhos que ‘some’ é tão grande que a gente chega a imaginar se não existiria por aí um cemitério de celulares, com dizeres como ‘Aqui jaz um Nokia’ ou ‘Descanse em paz, Motorola’.

Jefferson costuma alternar a história do celular com a da monografia que tem que fazer para a faculdade. ‘Quando você fala em monografia, as mulheres acreditam. Só que agora é verdade: estou feito louco com a monografia de final de curso e preciso de tempo pra estudar. Aí, junto a fome com a vontade de comer.’ No caso, a fome com a falta de vontade, observo. Ele concorda prontamente. E logo começa um discurso em defesa dos homens que desaparecem. ‘O problema é que as mulheres romanceiam tudo, fazem mil planos e depois se decepcionam.’ Fabiana não concorda. ‘A gente cria expectativas porque eles dizem que vamos passar o réveillon juntos, descrevem os amigos que vão nos apresentar, enchem nossas cabeças de fantasias e, de repente, somem. E, quando um dia dão de cara com a gente na rua, ainda têm o cinismo de dizer: ‘Oi, sumida!’. Alguém merece?’

‘Merecer, não merecemos, mas vivemos passando por isso’, argumenta Rose. Ela tem motivos para estar irritada. Depois de passar um ano se correspondendo com um português pela internet, a secretária raspou a conta da poupança e foi conhecer seu amor virtual em Lisboa. No primeiro dia, um susto: ele contou a Rose que era pai-de-santo. ‘Foi um choque, mas mantive a elegância’, diz a secretária, que até então só sabia que ele era comerciante. O problema é que o português foi se retraindo cada vez mais e, no dia de levá-la ao aeroporto, soltou a pérola: disse que tinha uma missão espiritual na Terra, e que seu guia havia dito para ele se afastar de Rose, porque essa missão não permitia que ele tivesse uma companheira. ‘É o máximo da humilhação’, desabafa, ‘você ser despachada por um pai-de-santo português!’

Entusiasmadíssima com um ficante com quem só tinha saído uma vez, Ana Cristina esperou com ansiedade pelo segundo encontro. Passou o sábado se arrumando e, na hora H, nada. Ele não apareceu, não telefonou e não atendeu o celular. No domingo, Ana insistiu até conseguir falar, e aí ouviu a justificativa: ele tinha sido abduzido! Contou que estava voltando da fazenda com uns amigos quando viram uma luz estranha e a caminhonete em que estavam parou. Segundo o ficante, eles viveram algumas horas estranhíssimas -não viam ninguém, mas sentiam presenças diferentes e não conseguiam sair do local. Só foram ‘libertados’ de madrugada e por isso ele não apareceu, explicou. ‘Fazer o que numa hora dessas?’, pergunta Ana Cristina.

‘Xingar, bater, rir?’ Até Jefferson acha que o rapaz se excedeu: ‘Recorrer a óvnis é muito!’. E conclui, implacável: ‘Quando um homem está a fim de uma mulher, não existem obstáculos. E, quando ele perde o interesse, qualquer coisa serve de pretexto -até mesmo os ETs…’.

:: Leila Ferreira é jornalista, apresentadora de TV e autora do livro ‘Mulheres – Por que Será que Elas…’, da Editora Globo

Fonte: Marie Claire

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